VIDA URBANA
Restaurador de arte paraibano se envolve em 'mistério' com obras de Picasso
Flávio Capitulino restaurou quadros que teriam sido roubados e vendidos por R$ 100 milhões.
Publicado em 09/10/2017 às 10:44
Um paraibano do município de Sousa está envolvido numa trama de fraude em obras de arte que pode exceder mais de R$ 100 milhões. O restaurador de arte Flávio Capitulino, que vive e trabalha em Paris há mais de 30 anos, é o profissional de referência na restauração das obras de um dos artistas mais importantes da História, Pablo Picasso.
Filho de agricultores, Capitulino saiu do Sertão paraibano para Paris quando tinha apenas 17 anos, influenciado por amigos que diziam que ele tinha 'um grande talento'. "Como aqui na Paraíba não tinha referência e com as pessoas dizendo que você é um grande artista, fiz minhas malas e parti pra Paris", conta. Na Europa, trabalhou como faxineiro, babá e cuidador de velhos.
Foi em um desses empregos que o talento de Capitulino foi finalmente descoberto. Ele restaurou uma velha mesa de uma casa onde trabalha; os patrões ficaram tão impressionados com o trabalho que o indicaram para trabalhar em um ateliê privado. A partir daí, a carreira decolou. Capitulino já restaurou obras de pintores como Van Gogh e Leonardo da Vinci, e trabalhou em 'O casamento de Pierrette', de Picasso, obra avaliada em 289 milhões de euros.
E foi justamente os quadros do mestre espanhol que envolveram o paraibano em uma trama milionária. Tudo começou em 2014, quando ele foi contratado para restaurar 'Mulher arrumando o cabelo' e 'Espanhola com um leque', desenhos de Picasso retratando a sua última esposa, Jacqueline Roque. Após entregar as obras finalizadas, ele foi contactado por Catherine Hutin [imagem], filha de Jacqueline e uma das herdeiras do pintor espanhol. Ela também queria que ele restaurasse alguma das obras do padastro que estavam guardadas em seu acervo pessoal.
"Quando começamos a fazer a separação do que precisava ou não ser restaurado, ela me mostrou as fotos dos quadros que eu tinha acabado de restaurar", conta o paraibano. Hutin, então, percebeu que os dois quadros não estavam mais no seu acervo e que deveriam ter sido roubados.
Paraibano restaurou quadros que teriam sido roubados
Em entrevista ao Fantástico, Capitulino contou que restaurou as obras sem saber para onde elas seriam destinadas. A polícia francesa foi logo envolvida no caso e apontou como principais suspeitos os homens que haviam contratado o restaurador: o sócio de uma empresa de armazenamento de obras Olivier Thomas e o negociante de arte Yves Bouvier.
Em depoimento, Bouvier contou que vendeu os quadros restaurados por Capitulino para o milionário russo Dmitry Rybolovlev, dono do time de futebol francês Mônaco. Quando descobriu as alegações de Hunti de que as obras haviam sido roubadas, Rybolovlev enviou os quadros para a polícia, onde permanecem sob custódia.
Fábio Capitulino conta que já foi ouvido cinco vezes pela polícia francesa e acredita que os quadros tenham de fato sido roubados por Olivier Thomas. "Thomas era velho conhecido de Catherine e tinha acesso ao acervo dela", diz. Diversos jornais franceses que acompanham o caso questionam, entretanto, se de fato ocorreu um crime. Para o Le Monde, Capitulino sabe mais do que falou para a polícia e há a possibilidade de Hunti ter se confundido e esquecido que vendeu os quadros de forma legítima.
Segundo essa hipótese, alegada por Thomas e Bouvier, que contrataram Capitulino, Hutin vendeu os dois quadros por R$ 30 milhões. O paraibano, entretanto, não acredita nesse cenário. "Catherine nunca venderia um quadro retratando a mãe dela, porque é sagrado para ela", afirma.
Uma outra possibilidade, levantada por uma revista francesa, afirma que Hunti teria feito uma falsa denúncia de roubo influenciada pelo russo Dmitry Rybolovlev, que comprou as obras após a restauração de Capitulino. Segundo a publicação, o russo queria se vingar após ter desembolsado R$ 100 milhões pelos quadros - um valor muito mais alto do que os R$ 30 milhões que teriam supostamente sido pagos à herdeira de Picasso.
Ameaças
Segundo Capitulino, seu envolvimento no caso já rendeu até ameaças de morte. "Eu recebi uma bala dentro de um envelope", conta. "Acho que foi um aviso para eu tomar cuidado com o que falo".
O caso já se arrasta há mais de dois anos na Justiça francesa. Ainda não há uma data prevista para anúncio do veredicto e, até lá, Capitulino acredita que corre perigo. "Eu já entrei em contato com meu advogado. Foi uma ameaça, um recado", conclui.
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