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ESPORTES

Praticar ciclismo em JP é uma verdadeira prova de aventura

A prefeitura tenta fazer a parte dela. Na cidade, já são 51 quilômetros de ciclovias, cortando 17 bairros. Mas abandono impede uma atividade saudável e sem riscos.

Publicado em 10/08/2015 às 17:09

Quem pedala pelas ruas de João Pessoa sabe que esta não é uma tarefa das mais fáceis. Aliás, ganha ares de aventura. Como em tantas outras cidades do país, o crescimento urbano desenfreado sufoca os ciclistas, quase sempre sem espaço para pedalar.

No ano passado, o ciclista João Soares, um dos fundadores do grupo Aventureiros do Pedal, acabou morrendo atropelado em pleno feriado do Dia do Trabalhador. O acidente, infelizmente, não é um caso isolado. Só na Grande João Pessoa, são cerca de 1,5 mil ciclistas praticando o esporte por lazer. Outros tantos, não contabilizados, usam a bicicleta para trabalho ou locomoção.

"Não há como contabilizar um número exato de ciclistas. A Federação está tentando, ao menos, cadastrar todos os grupos que promovem o ciclismo na cidade. É uma forma de tentar trabalhar e conscientizar pelo menos essa parcela de atletas que estão diariamente nas ruas. Agora quem usa a bicicleta para um fim pessoal, e foge das regras da modalidade, o perigo de acidentes é ainda maior", disse Almério Marra Júnior, presidente da Federação Paraibana de Ciclismo (FPC).

E a situação só piora para quem faz disso uma profissão. Sem um espaço adequado para treinos, os ciclistas profissionais da capital são obrigados a dividir as ruas com um tráfego pesado. Não por acaso, o número de acidentes cresce a cada ano.


Ruas desprovidas de ciclovias oferecem perigos principalmente para quem usa a bicicleta de forma amadora (Foto: Rizemberg Felipe)

A prefeitura tenta fazer a parte dela. Na cidade, já são 51 quilômetros de ciclovias, cortando 17 bairros. O problema é que falta fiscalização e, por vezes, o abandono impede uma atividade saudável e sem riscos.

"As grandes cidades estão evoluindo e não se tem planejamento para implementar o ciclismo. Não adianta fazer de qualquer jeito", constata Chateuabriand Silva, presidente do Clube Esportivo Chatô Bike de Ciclismo.

A opinião é corroborada por quem está nas ruas todos os dias, seja a passeio ou treinando para competições. Fred Carvalho é paraciclista. E dos bons. Na verdade, um dos principais do país, líder da Copa Brasil, após vencer as etapas de Brasília e de Penha-SC. Mas nem mesmo o cartel vitorioso faz com que ele conquiste o simples direito de treinar. A solução é ver na adversidade uma forma de tirar proveito.

"Para quem é atleta, João Pessoa é ótima para treinamentos. Temos ladeiras, pistas planas, orla... Tudo que podemos encontrar lá fora. Além disso, até o fato de termos asfaltos de qualidades diferentes ajuda. Nas competições, também encontramos pistas com buracos e de péssima qualidade. Então, treinar aqui pode ajudar", compara, de forma até certo ponto irônica.

Se a prática da modalidade por si só já exige uma série de cuidados com os itens de segurança, imagine numa cidade onde o ciclista parece ser facilmente confundido com uma presa. Assim, o uso de equipamentos básicos passa a ser uma obrigação.

"Para iniciar uma trilha ou pedal é necessário todo o equipamento de segurança. A gente chama de EPI (Equipamento de Segurança Individual). Luvas e capacetes são obrigatórios. Mas, além disso, a bicicleta precisa estar revisada, principalmente itens como pneus e freios", explica o ciclista Henrique Wanderley, presidente do grupo Aventureiros do Pedal, que existe há quatro anos e já conta com 31 membros.

A difícil vida de ser um ciclista profissional

Ciclistas e paraciclistas treinam juntos e dividem os riscos de andar na cidade. (Foto: Francisco França)

Se a prática do ciclismo já é complicada como simples forma de lazer, imagine fazer da modalidade um meio de vida. Os ciclistas profissionais sofrem não só com as condições da pista, mas também pela falta de apoio.

"Fazer esporte de alto rendimento é complicado. Tudo é caro. Então todo o apoio que você recebe ainda é pouco para as necessidades que temos. Mas não posso reclamar, pois nessa temporada consegui patrocínio para disputar todas as etapas da Copa Brasil", diz o paraciclista Fred Carvalho.

Depois de vencer as etapas de Brasília e da Penha-SC, nas provas contra o relógio e de estrada, Fred sonha em fechar a temporada com 100% de aproveitamento. O sonho é disputar o Parapan de Lima, em 2019, e as Paralimpíadas de Tóquio, em 2020.

"Infelizmente o Brasil não conseguiu vaga em minha categoria para as Paralimpíadas do Rio. Então o negócio é continuar treinando para disputar a próxima, em Tóquio. Antes disso, tem mais um Parapan, em Lima. Esse é um dos sonhos que tenho, de representar o Brasil numa grande competição de ciclismo", completa.

Se Fred ainda mora e treina em João Pessoa, a realidade para outros ciclistas profissionais é bem diferente. Atualmente, o melhor ciclista paraibano está em São Paulo. Kléber Ramos fez parte da seleção brasileira sub-23 e hoje está na equipe mais estruturada do país, a de Pindamonhagaba. No feminino, Danilas Ferreira compete pela equipe de Rio Claro, também no interior paulista.
Na Paraíba, são cerca de 200 ciclistas federados, quase todos vivendo de provas esporádicas organizadas pela Federação Paraibana de Ciclismo (FPC) ou pelas muitas associações independentes.

Passeios coletivos viram febre na cidade


Uma forma de se prevenir é pedalar em grupo. É a tal coisa: a união faz a força. Assim, é comum ver nas ruas de João Pessoa vários ciclistas juntos, transformando o comboio em proteção mútua.

"Com certeza uma das razões para o grande número de grupos na cidade é a segurança. Quanto mais gente, mais proteção. O meu grupo mesmo já foi assaltado num pedal que reuniu menos de dez ciclistas. Foi mais fácil a ação dos bandidos", explica Henrique Wanderley, que no entanto, vê um outro lado. "Quanto mais gente, mais o perigo de acidentes. Então, é importante que cada grupo tenha guias experientes e que possa controlar o comboio".

O grupo prefere pedalar à noite, evitando o horário do rush, sempre depois das 20 horas. Ainda assim, a relação com os motoristas não é fácil. E acaba sobrando reclamação para todo lado.

"Tem muito ciclista que não respeita as leis de transito. É preciso haver uma conscientização de todos os lados. E muito não têm. Acham que por está no comboio podem passar pelo sinal vermelho. Está errado", reconhece Henrique Wanderley.

Não existe um número fechado de grupos que praticam o ciclismo em João Pessoa, até porque qualquer um pode se juntar e fazer o passeio. No entanto, estima-se que 80 deles façam pedal regularmente na Grande João Pessoa. O Aventureiros do Pedal é um dos poucos regularizados

"Um grupo regularizado é forte judicialmente. Se nós estamos fazendo um evento, por exemplo, não é fulano ou cicrano. É uma entidade com CNPJ e totalmente regularizada. E o grupo também pode ser responsabilizado. Se todos os grupos fizessem isso, seria mais fácil, Tanto para quem acerta ou para quem erra", emendou Henrique.

Ciclovias estão presentes 17 bairros de João Pessoa


Meta da Prefeitura de João Pessoa é chegar aos 100 quilômetros de ciclovias nos próximos dois anos. (Foto: Francisco França)

Para quem encara o ciclismo como lazer também encontra dificuldade. É bem verdade que a situação já foi bem pior. Hoje, pelo menos, a cidade conta com uma malha cicloviária de 51 quilômetros, cortando 17 bairros. Apesar do avanço, ainda é pouco.

"João Pessoa tem muitas ciclovias. O que está faltando é respeito. Campanhas educativas. Hoje as vias ciclistas estão abandonadas, faz até medo: é buraco, carro, lixo. Não tem condição de ser utilizada a maioria das ciclovias", lamenta Chateubriand Silva.

A meta da Prefeitura de João Pessoa é chegar aos 100 quilômetros de ciclovias nos próximos dois anos. E mesmo que consiga atingir esse objetivo, que já consta no plano cicloviário da cidade, é necessário também uma campanha de conscientização para a população - especialmente para quem tem carro.

"Os grupos precisam se organizar. O pessoal junta uma turma e se acha no direito de fechar uma rua. Tem muito o que se evoluir. Falta planejamento. Nós nunca fomos chamados para discutir o ciclismo com as autoridades", completa Chateubriand.

Esse trabalho a Federação Paraibana de Ciclismo (FPC) está tendo. A ideia do presidente Almério Marra Júnior é cadastrar todos os grupos nos próximos meses. Até porque, ele reconhece, o número maior de acidentes ocorre na área de segurança.

"É um trabalho difícil. Catalogamos nas redes sociais cerca de 80 grupos que promovem o ciclismo regularmente. Entramos em contato com todos os representantes para falar da necessidade de estarmos organizados. Até porque existem mais acidentes nas áreas chamadas de segurança. É difícil acontecer um acidente nas rodovias. Só aqueles inerentes ao próprio ciclismo", explicou Almério.

De acordo com a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob), Roberto Pinto, as fiscalizações nas ciclovias até são feitas, mas que o respeito entre motorista, ciclista e pedestre ainda é o melhor caminho para se ter paz no trânsito.


Onde encontrar uma ciclovia em João Pessoa
Altiplano
Bairro dos Ipês
Bessa
Cabo Branco
Centro
Cidade Verde
Costa do Sol
Cuiá
Ernesto Geisel
José Américo
Manaíra
Mangabeira
Paratibe
Quadramares
Timbó
Torre
Valentina de Figueiredo

Ciclovia sem carro

Conforme o artigo 181 do Código de Trânsito Brasileiro, estacionar veículo em ciclovia ou ciclofaixa é considerada infração grave, cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), além de multa de R$ 127,69 e remoção do veículo do local. Já o artigo 193 mostra que é considerada infração gravíssima, sete pontos na carteira e multa agravada três vezes, no valor de R$ 574,62, quando o motorista transita sobre ciclovia ou ciclofaixa.

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Jornal da Paraíba

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