COTIDIANO
Profissionais da linha de frente têm a saúde física e mental afetadas pela pandemia
Pesquisa foi realizada por neurologista da UFPB com 710 profissionais de todo o país.
Publicado em 02/03/2021 às 20:57 | Atualizado em 03/03/2021 às 6:50
As vidas dos profissionais de saúde que trabalharam na primeira onda da pandemia de Covid-19 foram duramente afetadas, apresentando problemas como insônia, aumento no consumo de bebidas alcoólicas, problemas na alimentação e diminuição ou interrupção total da prática de atividades físicas.
A conclusão é de uma pesquisa coordenada pela neurologista Isabella Araújo Mota, do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba, que analisou 710 profissionais de saúde do Distrito Federal e de mais 21 estados brasileiros.
O estudou detectou, de acordo com a pesquisadora, uma série de mudanças nos hábitos diários dos profissionais de saúde do Brasil e avaliar o quanto isso gerou em dor e em outros tipos de impactos na vida dessas pessoas.
Entre os profissionais analisados, 80,8% eram mulheres. E a maioria tinha entre 30 e 40 anos de idade. Com relação às profissões de cada um, 41,8% eram médicos, 13,5% eram enfermeiros, 11,1% eram fisioterapeutas e 10,3% eram técnicos de enfermagem (10,3%).
Cerca de dois terços do total de profissionais pesquisados reportaram queixas relacionadas ao sono: 25,8% tiveram dificuldade de iniciar o sono; 29,6% relataram dificuldades de manter o sono; e 32,5% de acordar cedo. Além disso, 25,8% afirmaram que usam algum tipo de medicamento para insônia e 60,3% desses se automedicavam.
Além disso, 81,8% dos participantes da pesquisa apontaram mudanças na prática de atividades físicas, com a maioria dos profissionais de saúde parando de se exercitar ou reduzindo drasticamente a frequência de treino.
Apenas 9,7% dos profissionais relataram aumento na frequência de exercícios físicos durante a pandemia.
A pesquisadora percebeu ao longo de suas investigações que profissionais de saúde são mais suscetíveis a doenças físicas e mentais secundárias motivadas pela pandemia de covid-19.
Segundo o estudo, 41,1% dos participantes se referiram a dores diferentes das comuns apresentadas em sua vida. Além disso, a frequência do tratamento medicamentoso por esses profissionais (29,2%) foi maior do que o tratamento não medicamentoso (21,8%).
“Nós observamos maior prevalência de dor nos indivíduos que classificaram a insônia inicial como intensa ou muito intensa e nos que interromperam as atividades durante a pandemia”, afirma.
A ocorrência de mudanças na dieta alimentar também foi comentada por 78,5% dos participantes do estudo, que reportaram especialmente o incremento na ingestão de carboidratos. Pouco mais de 30% relataram comer de forma compulsiva e 30,6% aumentaram a ingestão noturna de comida. E 27% dos indivíduos relataram aumento no consumo de bebidas alcóolicas
A pesquisa sobre os efeitos da pandemia de covid-19 no cotidiano dos profissionais de saúde foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal da Paraíba e pela Comissão Nacional de Ética (CNE).
Até o momento, os resultados da pesquisa subsidiaram a publicação de dois artigos científicos em periódicos internacionais.
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