Contos Olímpicos #7: o menino de BF

Por Phelipe Caldas

Os Jogos Olímpicos não são feitos apenas de títulos, de conquistas, de medalhas de ouro.

Os Jogos Olímpicos são construídos, acima de tudo, a partir de retalhos de histórias. De trajetórias de vida que tornam pequenos feitos em eventos extraordinários. Em episódios para a posteridade.

Pois imagine um menino pobre da pequenina praia de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, quase divisa com a Paraíba.

Imagine um menino pobre perdidamente apaixonado por mar e por surfe. Que, por ser pobre, começou a "brincar de surfe" com a tampa de isopor de seu pai pescador.

Mas imagine um surfista destinado a não desistir. E que com 11 anos de idade ganha de presente a sua primeira prancha usada. Que na base da paixão e do improviso, começa a levar a sério as competições amadoras do esporte que escolheu para ser a própria continuidade de sua existência.

Aliás, imagine uma época em que o surfe brasileiro ainda não era a potência de hoje em dia. E que a maioria dos torneios amadores de surfe do Nordeste, realizados por verdadeiros abnegados, acontecia nas praias da Paraíba.

E o tal menino, pobre, sem recursos para passagens ou conduções, não raro saía a pé de sua casa, no Rio Grande do Norte, e caminhava acompanhado apenas de sua prancha surrada para competir em território paraibano.

Ondas vencidas, manobras dominadas, magias tomando formas na base da superação, da caminhada incansável, da resiliência, dos treinos repetidos à exaustão, do mais puro amor por um esporte que até pouco tempo era altamente marginalizado.

Já disse aqui. Os Jogos Olímpicos não são feitos apenas de títulos, mas principalmente de histórias inacreditáveis. O mais incrível, contudo, é que de tempos em tempos os títulos e as histórias inacreditáveis se materializam em um mesmo personagem.

Imagine agora que aquele menino pobre cresceu, superou os percalços, manteve-se firme. Imagine que aquele menino pobre já não é mais pobre, e que ainda assim não tem um dia em que ele não se lembre de onde veio e para onde tem que voltar para se sentir em casa.

Imagine que aquele menino agora é campeão mundial de surfe. Que aquele menino é o mais novo campeão olímpico da modalidade. O primeiro da história de seu esporte. O primeiro da história de seu estado.

Quer saber? Vamos parar de imaginar. Porque, às vezes, os mais improváveis sonhos tornam-se realidade um dia. Não é dia para imaginar. É dia de acreditar. Gritar. Vibrar. Chorar. Ítalo Ferreira é o homem mais importante do surfe mundial da atualidade. É o menino pobre que gravou para sempre o seu nome na história.

O menino de BF, enfim, chegou ao topo do mundo.