ESPORTES
Contos Olímpicos #11: Legado
"O samba cantado por Marta. Após a eliminação em Tóquio, pegou seu bandolim e mandou o recado."
Publicado em 02/08/2021 às 16:15 | Atualizado em 18/04/2023 às 15:12
Por Phelipe Caldas
Chamou a minha atenção o choro de Marta. O samba cantado por Marta. A mensagem de Marta nesse fim de semana.
Após a eliminação em Tóquio, pegou seu bandolim e mandou o recado. O samba, poético, imortalizado na voz de Alcione e gravado pela primeira vez em 1975, é de Edson Conceição e Aloísio Silva.
“Não deixe o samba morrer! Não deixe o samba acabar!”.
É uma música melancólica. Que não esconde um pouco de dor. De medo. De preocupação.
Fala de um velho sambista, já cansado, perto da aposentadoria, tenso com a incerteza de quem da nova geração o substituirá em seu ofício. Quem manterá vivo um legado tão duramente construído.
É quase um apelo desesperado para que alguém se apresente. Para que surja alguém mais jovem que seja digno de substituí-lo. Para que haja um trabalho de base, sério, para identificar novos talentos.
É uma mensagem forte. Simbólica demais para o momento do esporte brasileiro. Retire a palavra samba. Coloque futebol feminino, tal como proposto por Marta. Mas pode colocar também tênis, ginástica artística, vôlei, surfe, skate, boxe, judô, atletismo. Coloque todos os esportes possíveis que você lembrar.
As glórias são eternas, os atletas não. Eles passam. Eles não durarão para sempre.
Em Tóquio, foi a despedida de Marta e Formiga. E, mais cedo ou mais tarde, todos sem exceção deixarão um vácuo que precisará ser preenchido. Para tanto, o investimento tem que ser contínuo, o trabalho de base sério, a formação de atletas profissionalizado.
Marta chora porque é uma desbravadora. Uma atleta fantástica que venceu o que venceu apesar dos cartolas. Marta canta de forma sofrida por causa da falta de investimento crônico no futebol feminino, da dificuldade que é a formação de novas atletas no país, do medo que tem de não ver uma boleira assumir o seu legado, a sua camisa.
Não deixe o samba morrer. Não deixe o legado acabar. Não se alente em viver do passado.
O esporte é algo incrível, inspirador, apaixonante, capaz de mudar vidas e histórias. Não caia no discurso fácil e apelativo de quem diz que prefere hospital a atletas olímpicos.
Não são valores excludentes, afinal. O esporte é, antes de tudo, importante fonte de identidade de um povo. Aquilo que nos faz enxergarmos como coletividade. É o orgulho de ser brasileiro, nordestino, paraibano. Faz bem. É fonte de alegrias.
Vá por mim. Comemore, curta, bata no peito. E, acima de tudo, incentive o esporte e a prática esportiva entre crianças. Na pior das hipóteses, teremos crianças mais felizes. Na melhor, um futuro campeão olímpico paraibano a nos orgulhar.
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