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ESPORTES

Contos Olímpicos #13: Quatro centésimos

Hoje com 58 anos, o ex-velocista João Batista Eugênio vive em João Pessoa.

Publicado em 04/08/2021 às 13:30 | Atualizado em 18/04/2023 às 15:12

Por Phelipe Caldas

Pisque os olhos. Vá, vamos lá, pisque os olhos.

Piscou?

Pois entenda uma coisa. Para fazer esse ato simples, instintivo, imperceptível muitas vezes, você demorou dez vezes mais do que a diferença de tempo entre o terceiro e o quarto colocados na final dos 200 metros rasos do atletismo dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.

Foi mais rápido que um piscar de olhos, portanto.

E, de repente, a medalha de bronze não estava lá.

Dá para entender isso?

Quatro centésimos de segundo que separaram a glória do ostracismo total.

Sim, não é exagero.

Veja bem...

Robson Caetano conquistou essa mesma medalha em 1988, em Seul, e todo mundo lembra dele até hoje. Ficou famoso, deu entrevistas, virou comentarista de TV. Dia desses, mais de 30 anos depois daquela medalha olímpica, estava participando da Dança dos Famosos.

Mas, responda sinceramente. Você sabe quem é João Batista Eugênio da Silva?

Certamente, a grande maioria das pessoas vai dizer que “não”.

E se eu disser que João Eugênio é paraibano? Que ele nasceu em João Pessoa? Que foi ele, com apenas 21 anos de idade, o quarto lugar daquela prova de 1984?

Quatro centésimos!

O precursor de Robson Caetano, o finalista olímpico, o quase medalhista que poucos sabem quem é. Que poucos lembram. Que poucos cumprimentam com festa.

João Eugênio poderia hoje ser um homem rico, conhecido, plenamente feliz. Não é.

Ele carrega até hoje nas costas aqueles quatro centésimos que o tiraram do pódio. Um detalhe a esmo que lhe tirou tudo. Que fez dele por muito tempo um homem amargurado, sofrido, decepcionado. E que só quando mais velho conseguiu lidar melhor com aquela derrota.

Hoje com 58 anos, ainda mora em João Pessoa. Vive sua vida solitária e anônima. Pobre e sem luxos. E, mesmo que não admita, sente-se realizado quando é reconhecido por alguém da velha guarda. Mas, a verdade, é que poucas vezes isso acontece de fato.

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