CONVERSA POLÍTICA
Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos, há três anos, com munição roubada na Paraíba
Publicado em 14/03/2021 às 11:50 | Atualizado em 30/08/2021 às 18:09
Por ANGÉLICA NUNES
14 de março de 2018. A vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista que a conduzia, Anderson Pedro Gomes, foram mortos a tiros em uma rua da Lapa, no centro do Rio de Janeiro. Passaram três anos do crime e algumas perguntas seguem sem respostas. 'Quem mandou matar Marielle?' é uma delas. Para outras, as investigações levaram a uma certeza: a munição usada para matar a vereadora foi roubada meses antes na Paraíba.
O início dessa apuração remonta há poucos dias após o crime, quando o então ministro da Segurança, Raul Jungman, revelou que a munição que matou Marielle Franco teria sido furtada em um assalto à uma agência dos Correios no município de Serra Branca, no Cariri da Paraíba.
O ministro da Segurança Pública também disse que a munição teria sido desviada na própria PF, por um escrivão que foi processado, preso e demitido. Segundo Jungman, ele repassou o lote para algumas organizações criminosas do Rio.
À época, o então presidente dos Correios, Guilherme Campos chegou a dizer, em entrevista ao O Globo, que esse tipo de serviço só ocorreria se houvesse uma autorização oficial do Exército.
Mais tarde, um inquérito civil instaurado pelo Ministério Público Federal da Paraíba, concluiuque a munição era do mesmo lote usada no episódio dos Correios. O lote UZZ-18, destinado à PF em 2006, foi desviado em julho de 2017.
O inquérito na Paraíba, conduzido pelo procurador da República, Edílio Magalhães, recebeu voto de louvor no último dia 8 de março, momento em que ele foi homologado, arquivado e remetido à Procuradoria da República no Rio de Janeiro para dar continuidade ao trabalho.
Neste processo, o trabalho do MPF da Paraíba também foi fundamental para a instalação de uma política de controle de armas e munições no país, algo que nunca tinha sido feito antes.
Perguntas sem resposta
Saber essa resposta é, no entanto, um pequeno passo diante de tantas incógnitas. As famílias seguem pedindo mais empenho das autoridades para se chegar aos mandantes do crime e aos motivos da execução.
“Três anos é muita coisa. É muito tempo para que não se chegue a saber quem são os mandantes dessa barbárie. Infelizmente, as nossas dores são maiores do que tudo”, disse Marinete Silva, mãe de Marielle, em uma coletiva virtual promovida esta semana pelo Instituto Marielle Franco e pela Anistia Internacional Brasil.
Até o momento, a perícia apontou apenas que foi usada uma submetralhadora MP-5 com munição UZZ-18 para o crime, mas os investigadores não sabem o destino da arma. Também se levantou que os fuzis foram jogados ao mar no dia seguinte à prisão do policial reformado Ronnie Lessa, em março de 2019. No entanto, arma jamais foi encontrada.
Muitas mudanças
Para a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, as trocas constantes, no comando das investigações do caso na Polícia Civil e no Ministério Público, atrapalharam o andamento dos trabalhos.
“Durante esses três anos, foram três governadores, dois procuradores-gerais de Justiça, três delegados e três promotores. Entre os responsáveis pela segurança pública no Rio de Janeiro, foram cinco trocas. É inadmissível que, três anos depois, a gente ainda não tenha a solução definitiva desse caso”, disse Jurema.
Uma força-tarefa do MP para cuidar do caso foi instituída apenas nesta sexta-feira (12). Uma de suas primeiras missões é concretizar um acordo judicial com o Facebook para obter dados que possivelmente ajudem na busca pelos mandantes do crime. Será a primeira vez que a empresa disponibilizará seus dados para a investigação, embora haja anterior determinação judicial para isso.
Julgamento
A parte às investigações, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) confirmou para o dia 9 de fevereiro a decisão de levar a júri popular Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz pela morte de Marielle e Anderson Gomes. Lessa foi apontado como o autor dos disparos e Queiroz como o condutor do veículo.
O júri popular já havia sido determinado em decisão de primeira instância em março do ano passado. No entanto, as defesas dos réus recorreram.
Eles foram denunciados por duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, emboscada e sem dar chance de defesa às vítimas e por tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves. Ambos estão presos há dois anos. Atualmente estão em custódia no presídio federal de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia.
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