CONVERSA POLÍTICA
“Trabalhou com disposição física e mental de fazer inveja aos mais moços”, destacou o responsável por várias obras dos governos de Maranhão
Publicado em 14/02/2021 às 12:07 | Atualizado em 30/08/2021 às 19:03
Por LAERTE CERQUEIRA
Neste domingo, a morte do senador José Maranhão completou sete dias.
Foi uma semana de muitas homenagens ao paraibano de Araruna, que governou a Paraíba por três vezes, foi ainda deputado estadual e federal, e morreu por complicações provocadas pela Covid-19.
Passou mais de 70 dias internados. A maior parte do tempo em um dos hospitais mais modernos do país, em São Paulo. Mas, as sequelas deixadas pelo coronavírus foram implacáveis.
Na manhã de hoje, na missa 7º dia, no Santuário Mãe Rainha, no bairro Aeroclube, em João Pessoa, o político recebeu mais homenagens de amigos, familiares e autoridades políticas. A viúva do senador, Fátima Bezerra, continuou emocionando com relatos da relação. A celebração foi com o padre Nilson Nunes, próximo da família. Na ocasião, o legado deixado por ele foi mais uma vez destacado.
Supersecretário e engenheiro do “mestre de obras”
Na rede social, quem também fez questão de destacar, em detalhes, o legado do “mestre de obras”, foi Francisco Jácome Sarmento, seu principal engenheiro, consultor e amigo, ex-supersecretário.
O professor de Engenharia Civil e Ambiental da UFPB fez um longo e detalhado relato do pensamento de Maranhão como gestor, suas atitudes, suas características chefe do Executivo, como cidadão. E, ainda, sua forma de encarar os problemas e a luta para solucionar gargalos estruturais do estado. Entre eles, falta de sustentabilidade hídrica.
Um registro importante, histórico, feito no dia da morte de José Maranhão, 08 de fevereiro de 2021, por quem acompanhou por muitos anos o trabalho do político.
Abaixo, o Conversa Política resgata alguns trechos do texto, em discurso direto. Deixaremos, abaixo, o link para que você vá direto à rede social de Sarmento e leia o texto na íntegra, caso prefira. Se não, seguem alguns recortes representativos. Sigamos em frente.
Inquebrantável espírito público
Escreveu Sarmento: “Na dimensão existencial humana, quando a perda é grande, o silêncio talvez seja a expressão mais eloquente, uma vez que o verdadeiro sentimento dificilmente pode ser traduzido em palavra [...] José Targino Maranhão, que completou seu ciclo entre nós, marcado pela coerência, sem nenhuma mácula ética, com inquebrantável espírito público e, acima de tudo, tendo como foco central as pessoas mais vulneráveis, para quem trabalhou com disposição física e mental de fazer inveja aos mais moços que o auxiliaram em suas passagens, principalmente, enquanto chefe do Executivo paraibano”.
Primeiro contato
“Conheci Maranhão no final da década de 1990, quando integrava a Coordenação de Transposição do Rio São Francisco (Secretaria Especial de Políticas Regionais – SEPRE - Brasília-DF) e ele, reeleito, iniciava seu segundo mandato como governador da Paraíba (1998-2002). O Brasil se encontrava em pleno debate sobre se a Transposição deveria ou não ser realizada e Maranhão, defensor ardoroso da obra, preparava um depoimento a ser dado no Senado Federal sobre a importância do empreendimento para a Paraíba. Fui designado para repassar ao governador as informações de que ele precisava para montar seu pronunciamento.
Ao contrário do que esperava em termos de informações que seriam demandadas por alguém com a política como exercício de vida, a maior parte da conversa fluiu em torno de detalhes técnicos da obra, naquele ínterim, em fase de elaboração de projeto. Maranhão queria saber tudo sobre equipamentos, motores, modos de funcionamento, etc.
Só vim a compreender bem aquele tipo de interesse, diga-se de passagem, incomum aos políticos comuns, quando, no final da conversa, ele me falou de sua paixão pela aviação, pela mecânica de funcionamento das máquinas, por questões de aerodinâmica, regidas pelas mesmas leis físicas presentes na hidrodinâmica empregada no transporte da água 'sanfranciscana' para a nossa Paraíba”.
Secretaria Extraordinária de Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais
“Assim como ocorrera no nosso primeiro contato envolvendo a Transposição do São Francisco, Maranhão discutiu cada detalhe de um plano que, em suas palavras “transformaria os recursos oriundos das privatizações não em pó, mas sim em água”. Nasceria então o “Plano das Águas”.
Em sua habilidade política singular, o governador soube multiplicar os pães (recursos das privatizações, sanha neoliberal imposta pelo o governo FHC), convertendo-os, quando possível, em recursos de contrapartida, oferecendo com a outra mão, projetos de engenharia tecnicamente inatacáveis, que anulavam qualquer argumento procrastinador, eventualmente usado nas esferas federais para atrasar repasses.
Na fase de execução das obras previstas no Plano das Águas, não era nada raro que ele me ligasse na madrugada, para perguntar sobre o andamento de determinada adutora, barragem ou projeto de irrigação.
Muitas foram as ocasiões em que, se desculpando por ser notívago, aproveitava para saber, madrugada adentro, o que não cabia durante o dia. Muitas dessas conversas telefônicas, transcorridas às 2 ou 3 horas da manhã, terminavam em compromisso de tomar o avião do Estado às 6:00 horas para visitar in loco os empreendimentos. Isso, para não falar nos finais de semana, para ele, sempre achei, indistinguíveis das segundas-feiras.
Os resultados daquele primeiro ciclo do governo Maranhão, findo em 2002, ainda que nos restringíssemos apenas à área de Recursos Hídricos não caberiam aqui. (veja a lista de obras no link da rede social)
Terceiro mandato
“Em 2009, José Maranhão reassumiu o governo da Paraíba para uma terceira gestão de apenas um ano e nove meses (fevereiro de 2009 a dezembro de 2010) [...] Assim, em tão exíguo período administrativo, foi mais uma vez possível realizar intervenções estruturantes que impactarão por décadas o Estado da Paraíba. Atendendo a sua convocação, pedi exoneração da Chefia da Assessoria Técnica da VPR para acumular as Secretarias de Recursos Hídricos e de Infraestrutura, enquanto se formava o novo governo. Mais uma vez, nesse resgate do legado infraestrutural de José Maranhão, por falta de espaço, me restringirei apenas às realizações afetas à capital paraibana, incluindo ainda obras relevantes relacionadas ao período 1998-2010.
Algumas obras (lista completa no link)
• Adutora Translitorânea, que hoje garante o abastecimento de água da grande João Pessoa;
• PAC-Saneamento: ampliação de recursos da ordem de R$226 milhões divididos em 24 projetos, dos quais 14 beneficiam a capital do Estado;
• Construção da PB-008;
• Desembargo ambiental do Polo Ecoturístico do Cabo Branco;
• Centro de Convenções de João Pessoa: Foi o governo Maranhão que, em um mandato de apenas um ano e nove meses (fevereiro de 2009 a Dezembro de 2010) levantou o embargo do projeto do Centro de Convenções junto ao TCU e construiu cerca de um terço da obra;
• Hospital de Trauma Senador Humberto Lucena;
• Duplicação da BR-230;
• Viaduto de Oitizeiro.
Despedida
“A partida de José Maranhão deixa um imenso vazio na política brasileira, pelo exemplo de homem público, trabalhador, de elevada estatura intelectual e, sobretudo, no campo pessoal. Sinto a perda de um amigo leal com quem muito aprendi e que me propiciou a oportunidade contribuir com suas realizações, dando efetividade direta à formação educacional que recebi da escola e da universidade públicas. Digo que sua partida foi precoce, pois, para quem o conhecia de perto, era visível a sua completa disposição para a vida e para o trabalho. Que o Mestre do Universo o receba em Sua Paz”.
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