CONVERSA POLÍTICA
Prefeito Cícero Lucena, vete trecho da lei que torna missas e cultos "presenciais" uma atividade essencial na pandemia!
Publicado em 04/03/2021 às 14:54 | Atualizado em 30/08/2021 às 19:02
Por LAERTE CERQUEIRA
Não é questão de fé. É de negação da realidade. E o senhor, prefeito Cícero Lucena, não foi eleito para negar a realidade. Por isso, para não ser corresponsável pela contaminação e eventual morte de fiéis que são incentivados, irresponsavelmente, por seus líderes a irem, presencialmente, a uma missa ou culto, vete trechos da lei aprovada hoje (04), na Câmara de João Pessoa.
Vete sem medo de pressões. O senhor já foi eleito e quando o peso do problema cair nas suas costas, muitos não estarão ao seu lado. Como já fizeram com outros prefeitos. Na glória, todos estão juntos. Na queda, estará sozinho.
Atropelando regras, e sob pressão inegociável, quase fanática de vereadores com base religiosa forte, a maioria deixou passar a proposta que torna missas e cultos com a presença de pessoas uma atividade essencial, mesmo na pandemia e em momentos como esse que vivemos, de quase colapso no sistema de saúde e de contaminação veloz. Uma loucura.
A luta, agora, é para evitar qualquer contato, qualquer possibilidade de aglomeração. Os números já mostraram isso a todos.
Um exemplo dessa insanidade: nos últimos dias, estado e prefeitura abriram na Região Metropolitana de João Pessoa mais de 60 leitos e, mesmo assim, continuamos com 80% a 90% de ocupação nas UTIs. Ou seja, qualquer internação a mais, que pode ser evitada com uma oração em casa, com um telefonema religioso, com uma videoconferência espiritual, impede o colapso.
Outra ajuda
Então, prefeito Cícero, não sancione esse trecho da lei. Se esse vereadores quisessem ajudar, deveriam estar discutindo como vão auxiliar os comerciantes, os informais, os donos de pequenos negócios que vão fechar as portas nos próximos dias, se o número de casos não cair.
O senhor e toda a equipe de saúde sabem disso. Basta os números não baixarem até domingo, dizem os profissionais de saúde, vai ter que fechar mais atividades econômicas. Terão mais restrições de horário.
Um desses profissionais me disse, ontem (04), sobre um hospital privado da capital: "é cena de terror, 55 pessoas internadas e tendo que abrir mais espaços".
Muitos modos de ajudar
Ninguém negou a qualquer igreja ou religião ajudar espiritualmente alguém de maneira individual, nem muito menos impediu que as instituições mantenham projetos sociais, de caridade, seguindo protocolos sanitários. Esses pontos, considerando o impacto econômico e psicológico, devem ser levados em conta e podem até passar na proposta.
Mas, permitir o encontro presencial nas igrejas e templos, agora, por causa de um projeto de lei construído sem levar em conta a realidade, é compactuar com a irresponsabilidade.
Vete esse ponto, prefeito, porque esse é o menor problema que está nas suas mãos. Ninguém perde se todos, principalmente os idosos, rezarem em casa. A fé move montanhas, mas até Deus espera que a gente seja consciente com o livre arbítrio.
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