Apesar da escassez, consumo de água aumenta 12,5% na PB

Hoje, a recepcionista Juliana Souza, que mora em Campina Grande, conhece bem a rotina para economizar água. A palavra-chave, segundo ela, é reaproveitar. A água gasta no banho é armazenada para lavar o próprio banheiro e também usada na descarga. Já a água utilizada na lavagem da roupa serve ainda para a limpeza da cozinha. Mas esse cuidado em economizar, agregado à rotina de inúmeros paraibanos nos últimos anos de forma impositiva, pelo racionamento, ou de forma espontânea, não foi sempre uma realidade.

Um levantamento divulgado no último mês pelo Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (Snis), do Ministério das Cidades, mostra que entre os anos de 2010 e 2014 (dados mais recentes disponibilizados), o consumo per capita de água na Paraíba cresceu 12,5%, passando de 111,3 para 125,24 litros, o que colocou o Estado na quarta posição do ranking nordestino com o maior consumo de água por pessoa.

Dentre os fatores que contribuíram para esse aumento no período citado, um deles foi a própria estiagem, que fez com que fontes alternativas de água, como pequenos açudes e barragens secassem, aumentando a demanda na rede convencional de abastecimento, conforme explicou a professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Ilza Brasileiro. “É importante ressaltar que desde o ano de 2012 a Paraíba enfrenta uma grande escassez de chuvas. A evaporação é muito alta e o calor é excessivo. Tudo isso contribui com um maior consumo de água, bebemos mais, tomamos mais banhos e consequentemente gastamos mais água”, explicou a professora.

Ainda conforme o estudo, as cidades de Mogeiro e Itabaiana, ambas no Agreste, e Cabedelo, no Litoral, apresentaram o maior consumo per capita da Paraíba, acima de 200 litros/dia. Enquanto que as cidades de Tacima e Cuité, no Agreste e Imaculada, no Sertão, tiveram o menor consumo em relação à média estadual, abaixo de 40 litros/dia. Segundo a especialista, no município de Mogeiro, grande parte da água doce é utilizada na agricultura e consequentemente o consumo é maior, embora já existam tecnologias de irrigação para reduzir esse consumo. Em Campina Grande, o consumo per capita é de 143,29, abaixo da capital João Pessoa, onde cada pessoa gasta 157,30 litros de água por dia.

A discrepância do consumo entre as cidades pode indicar também, segundo o Snis, uma demanda reprimida, ou seja, a população está conectada à rede de abastecimento, mas não está recebendo água na quantidade ideal. O diretor de operações e manutenção da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), José Mota, admite que fatores como desperdício e perdas com vazamentos influenciaram nessa conta, mas citou que o crescimento do consumo também esteve relacionado com o aumento da renda e mudança de hábitos da população. “A população vai crescendo e os sistemas vão ficando obsoletos, temos essas perdas, mas o nosso problema é realmente a estiagem”, disse.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa necessita de um consumo mínimo de 110 litros de água por dia – medida que seria suficiente para um indivíduo saciar a sede, cuidar da higiene e preparar os alimentos. Por isso, a professora Ilza Brasileiro destacou a importância da conscientização da população e dos poderes públicos em fazer uma melhor gestão dos recursos. “Se trabalharmos juntos, população e poder público, esse cenário que estamos vivenciando hoje e em parte é resultante desse consumo desenfreado, seria diferente. Ou seja, teríamos água de qualidade e em quantidade suficiente para vivermos dignamente”, concluiu.

Situação hídrica da Paraíba preocupa

Conforme a Diretoria de Operações e Manutenção da Cagepa, apesar de algumas chuvas irregulares que banharam a Paraíba desde o início do ano, o cenário hídrico do Estado tem agravado dia a dia. Atualmente, 98 cidades passam por racionamento, 26 municípios estão em colapso e 14 em estado de alerta. O volume do açude Epitácio Pessoa (Boqueirão), que abastece Campina Grande e outras 18 cidades, chegou a 10,9% ontem, e a qualquer momento, pode entrar no volume morto, quando a captação de água será feita através de bombas flutuantes já instaladas no manancial.

“Estamos monitorando a barragem diariamente e prontos para realizar a mudança no sistema de captação, assim que for detectada a formação de um vórtice”, explicou o diretor de operações da Cagepa, José Mota. Quando isso acontecer, o modelo de racionamento da cidade, que atualmente é de interrupção total do abastecimento por 84 horas, também será modificado e Campina Grande será dividida em duas zonas, quando uma deverá ter água, enquanto a outra fica sem abastecimento. Os demais detalhes sobre o plano ainda não foram divulgados.

Assim como o açude de Boqueirão, dos outros 124 mananciais monitorados pela Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), 35 reservatórios estão em observação, com capacidade menor que 20% do seu volume total, outros 57 estão em estado crítico, abaixo de 5% do volume total e apenas 32 estão com capacidade acima de 20%, do volume total. Nenhum manancial está sangrando.

CONSUMO PER CAPITA NA PARAÍBA EM 2014

CIDADES COM CONSUMO PER CAPITA ELEVADO (LITROS/DIA)

Mogeiro: 239.16
Cabedelo: 233.03
Itabaiana: 203.01
Lucena: 194.02
Conde: 167.87
Caturité: 160.55
Caaporã: 159.61
Boqueirão: 158.22
João Pessoa: 157.30
C. Grande: 143.29

CIDADES COM CONSUMO ABAIXO DOS 100 LITROS/DIA

Tacima: 25.48
Cuité: 28.46
Imaculada: 39.90
Salgadinho: 44.70
Arara: 46.56
Seridó: 47.22
Araruna: 47.67
Remígio: 53.00
Areial: 54.17
São Francisco: 56.10