CONVERSA POLÍTICA
Bolsonaro se agarra a Ciro Nogueira, abraça de vez o centrão para "sobreviver" e cria ministério para encaixar Onyx
Publicado em 22/07/2021 às 10:19 | Atualizado em 30/08/2021 às 18:55
Por LAERTE CERQUEIRA e ANGÉLICA NUNES
Bolsonaro assumiu a presidência querendo governar com as bancadas: da bala, da bíblia, do agro. Viu que são muito interesses dentro de um simulacro de unidade.
Apostou em Paulo Guedes, percebeu que o posto Ipiranga não tinha tanta habilidade política. Ao menos, acalma o mercado com seu economês elitista. Conseguiu uma reforma já quase pronta (da previdência), algumas privatizações e continua fazendo promessas de reformas, de inflação e taxa de crescimento que não batem com a realidade.
O presidente queria agraciar militares, mas eles não são tão bons na relação com o parlamento. Trocou aqui, ali, mas não é tão simples. Do outro lado, para manter apoio, vitaminou as benesses, os recursos e militarizou os cargos de direção de estatais.
Tentou colocar a culpa da inanição do governo nos "chantagistas" do Congresso. Buscou inimigos virtuais e reais para justificar a incapacidade de fazer o que prometeu na campanha.
Sem programas
Não tem programa contra a fome, não tem de habitação, não tem proposta para educação básica. Por enquanto, só tem promessas de mudar os programas existentes de nome. Talvez no ano eleitoral tudo saia. Tomara, porque há muita necessidade rondando os lares e, também por isso, a popularidade está descendo ladeira abaixo.
Muitas vezes, ou quase todas, recorreu ao grito e aos ataques às instituições, mas viu que na democracia é preciso diálogo, explicações e transparência. Mais recentemente, acena para o golpe do voto impresso e da fraude eleitoral que nunca foi provada. De irregularidade em um sistema que o elegeu. Elegeu seus familiares, repetidas vezes. Com rachadinha e sem (caso provem que não existiu).
A pandemia
A pandemia foi um obstáculo a mais e, se já estava difícil, com a crise sanitária, piorou. Mas piorou porque o presidente, mais um vez, colocou suas paixões e convicções na frente dos fatos. Mas não se governa apenas com esses ingredientes.
Não foi eficiente. Ah, mas mandou recursos para estados e municípios, equipamentos, pagou leitos e hospitais de campanha. Foi obrigação. Afinal, o governo federal fica com mais de 70% da arrecadação e precisa devolver. Nesse caso, devolver para salvar vidas. Não é agrado e nem atitude de herói.
Fragilidade
Perdeu-se quando minimizou o vírus, atrasou de propósito a compra de vacinas, desdenhou das medidas de distanciamento, apostou no 'ouvir dizer' dos remédios sem eficácia, minimizou as milhares de mortes diárias. A CPI, com todas suas falhas, escancarou, com documentos e testemunhas os equívocos de gestão e um "esquema" que floresceu no Ministério da Saúde, para desviar dinheiro público. Por pouco não conseguiu.
Registramos tudo isso para lembrar que depois de tantos erros, fragilidade política, popularidade caindo, pedido de impeachment "borbulhando", o presidente teve que se agarrar ao fisiologismo do centrão, que ama o poder e não quem está com ele. Foi o que sobrou.
No movimento, vai criar mais um ministério para encaixar Onyx Lorenzoni. Transforma Ciro Nogueira em ministro da Casa Civil.
O mesmo Ciro que agora queima a língua porque, não faz muito tempo. chamou o presidente de fascista e incompetente.
Bolsonaro também torrou a língua. A "velha política" (expressão controvérsia) entrou no Planalto com tapete vermelho e cadeira cativa.
Militares e "moralistas" de plantão terão que engolir para sobreviver. Não é culpa apenas do sistema político brasileiro. Foi também culpa da incapacidade de gestão e de agir corretamente para, pelo menos, manter a popularidade.
Comentários