VIDA URBANA
Nome usado por turma da UFPB causa polêmica entre estudantes
Turma adotou o nome 'Dopasmina'. Grupos consideraram que nome é apologia ao estupro.
Publicado em 17/08/2016 às 15:06
O nome adotado por uma turma de Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) vem provocando polêmica nas redes sociais desde a noite desta terça-feira (16). A discussão gira em torno de um cartaz retratando um time de futebol de estudantes, colocado no Centro de Ciências Médicas (CCM) da universidade, com a afirmação 'Melhor time do CCM - Dopasmina'. Várias pessoas apontaram que o nome pode representar uma apologia à violência contra a mulher; defensores dos estudantes envolvidos, entretanto, afirmam que o nome não passa de uma referência ao neurotransmissor dopamina e não tem qualquer significado oculto.
De acordo com um estudante da turma, que preferiu não se identificar, é comum que turmas de Medicina escolham um nome fantasia no início do curso. "O nome Dopasmina acabou ganhando na minha turma por uma pequena margem no primeiro período", explica. "Entretanto, não o utilizamos mais. Algumas pessoas da nossa turma já haviam dito que o termo poderia ser interpretado de outra forma e adotamos o nome 'Turma 99' no final de 2015", disse.
Segundo o estudante, o cartaz foi colocado no CCM após o time de futebol da turma, que ele não faz parte, ganhar um torneio interno. "A camisa do time foi produzida no início do período, quando ainda utilizávamos o nome Dopasmina. Como só tínhamos ela, foi a que utilizamos para disputar a competição", conta. Após ser colocado, alguns estudantes se incomodaram com o nome no cartaz e começaram a riscá-lo. A polêmica aumentou quando um professor do CCM acusou os estudantes da turma de estarem realizando apologia ao estupro. "Os alunos e professores estavam reunidos assistindo ao jogo de futebol feminino das Olimpíadas quando um professor subiu em um sofá e acusou os estudantes de machismo e apologia ao estupro", explicou o aluno.
A foto do cartaz foi publicada em uma rede social, o que gerou uma reação de internautas e grupos feministas. "Não vejo brincadeira quando as palavras levam a ações sérias", escreveu uma usuária. Em nota, o Coletivo Feminista Nise da Silveira afirmou que repudia a escolha do nome. "É notável a falta de empatia da turma com diversas vítimas e também com as colegas que, mais uma vez, se encontram a mercê do machismo e da cultura do estupro", acrescentando que "não conseguimos achar outro motivo para a realização de tal apologia a não ser a ignorância, a conformidade e a aceitação da cultura do estupro e do machismo dentro da nossa sociedade".
Para a pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Gênero e Mídia da UFPB, Lívia Costa, a escolha do nome Dopasmina não é inócua. "A utilização em referência à dopamina é usado muito mais como uma valorização de 'dopar as minas', atitude de agressão muito recorrente nos campus universitários, onde homens se aproveitam de mulheres sob efeito do alcool ou outras drogas", afirma.
Os estudantes da turma de Medicina disseram que estão sendo agredidos. "Estamos sendo chamados de estupradores e machistas por pessoas que nem nos conhecem", disse um deles, acrescentado que a turma está "reunindo documentos" para "garantir seus direitos".
"Foi uma escolha equivocada", diz professor
Após a polêmica, a Turma 99 publicou uma nota na tentativa de esclarecer o caso. "Em nenhum momento a idealização do nome teve interesse de caráter pejorativo ou degradante, tampouco a intenção de fazer apologia ao estupro ou de desrespeitar as mulheres", diz o documento, ressaltando que o nome foi abandonado há mais de um ano. A nota foi retificada pelo diretor do CCM, prof. Eduardo Sousa, que ficou sabendo da repercussão pelos estudantes.
"Eu reconheço que o nome realmente nao poderia ter sido adotado, já que dava margem a dupla interpretação", diz o professor. "Foi uma escolha equivocada, mas que já foi revista; os alunos reconheceram o erro. Tiramos daí uma licção positiva do cuidado que temos que ter com as palavras", declarou, afirmando que o CCM realiza práticas cotidianas para esclarecer os estudantes acerca de questões que envolvam a violência contra a mulher.
A publicação da nota provocou novas discussões nas redes sociais. "É uma nota de explicação. Não queremos explicação, nós já entendemos. Queremos é desculpa, respeito", afirmou uma usuária, enquanto outros parabenizaram a turma pela retratação.
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