COTIDIANO
Será que Roberto Carlos cantaria uma canção agnóstica de Gil?
Publicado em 06/11/2016 às 6:03 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:45
Gilberto Gil compôs duas canções para Roberto Carlos: Era Nova e Se Eu Quiser Falar Com Deus. O Rei não as gravou. Gil, sim. A primeira, em Refavela (1977). A segunda, em Luar (1981). Elis Regina também gravou Se Eu Quiser Falar Com Deus.
Elis canta, Gil reza - me disse, certa vez, um católico de formação muito sólida, estudioso da fé do homem.
Reproduzi essa fala para Gil e ouvi dele a seguinte resposta:
Acho a observação bem arguta, bem atenta, bem feita. Elis "cantava" tudo que pusessem em sua frente. Cantava sempre a pronunciar o verbo na primeira pessoa. Eu sou outra coisa.
Essas lembranças me ocorreram quando vi a foto de Roberto Carlos recebendo Gilberto Gil e Caetano Veloso para um ensaio do seu especial de fim de ano.
Será que, dessa vez, Roberto Carlos vai cantar Se Eu Quiser Falar Com Deus? Foi a pergunta que me fiz.
A letra tem questionamentos e inquietações que não combinam com a sua fé. Gil entendeu perfeitamente a recusa da canção pelo amigo. Reproduzo o que ouvi de Gil:
Roberto Carlos é um homem de fé. Se Eu Quiser Falar Com Deus é uma canção agnóstica. Eu não tinha certeza até que ponto ele estaria aberto, disposto a uma certa atitude mais experimental nessa questão. Quem sabe ele tivesse interesse e vontade de falar de deus de um ponto de vista mais in-pessoal, mais de dentro dele mesmo, mais do seu próprio tato, do seu próprio meio de contato. Enfim, eu não sabia até que ponto ele estaria, como eu estava, disposto a abrir mão de uma "leitura" em favor de uma "feitura" de deus. Mandei a música assim mesmo, na esperança de encontrar nele um parceiro para a minha viagem nesse espaço do vácuo teológico. Mas Roberto é um homem de fé e assim permaneceu. Eu compreendi e respeitei.
Seria extraordinário ouvir Se Eu Quiser Falar Com Deus, afinal, na voz do Rei! Por mais improvável que pareça, quem sabe?
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