COTIDIANO
História Social do Jazz, de Hobsbawm, é para ler e reler sempre!
Publicado em 31/01/2017 às 17:00 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:46
“A Era das Revoluções” estava na estante do meu pai no início da minha adolescência. Edição da Paz e Terra. Foi como eu soube da existência de Eric Hobsbawm. Judeu, marxista, historiador extraordinário debruçado sobre a compreensão do seu tempo. Do século em que nasceu (era de 1917) e viu findar. O resumo de tudo pode ser “Era dos Extremos”, lançado quando o século XX estava terminando.
Minha admiração por Hobsbawm vem principalmente de um livro que li mais de uma vez e sempre consulto: “História Social do Jazz”, editado no Brasil pela Paz e Terra. Imprescindível para os que querem entender a mais rica manifestação da música popular do século XX. Ouvir o jazz depois da leitura de Hobsbawn é outra coisa. As audições ganham uma nova dimensão, a despeito da inveja que sentimos por não termos visto, como ele, os grandes nomes do jazz ao vivo, no palco, improvisando. E aí é preciso concordar com todos os que defendem a tese de que jazz é mesmo para ver ao vivo.
Quando publicou o livro pela primeira vez, no início da década de 1960, Hobsbawm usou um pseudônimo: Francis Newton. A ideia – diz ele – era manter as suas obras como historiador separadas da sua produção enquanto jornalista. Mais tarde, mudou de ideia. Na edição de 1989, é seu nome que aparece na capa, embora o pseudônimo tenha sido conservado em letras menores. “História Social do Jazz” é do tempo em que se podia “ouvir ao vivo Bechet e Basie, Ella Fitzgerald, ou a uma das últimas apresentações de Billie Holiday, ou a gloriosa Mahalia Jackson”. O livro traz a lembrança dos dias em que Louis Armstrong e Duke Ellington ainda viviam.
Segundo o autor, o livro não é apenas sobre o jazz como um fenômeno em si mesmo, “hobby e paixão de uma grande legião de entusiastas, mas também sobre o jazz como parte da vida moderna. Se é comovente, é porque homens e mulheres são comoventes: você e eu. Se é um pouco louco e descontrolado, é porque a sociedade em que vivemos também é assim”. Para Hobsbawm, não é objetivo do jazz produzir obras que sejam classificadas sob um rótulo especial de excelência crítica. “Apenas fruir da música e fazer com que outros também fruam enquanto ela é executada” – está escrito por Eric Hobsbawm no capítulo que trata do tema da realização musical.
Os negros americanos criaram o jazz a partir do contato deles com os instrumentos europeus. Desenvolveram um excepcional senso de improvisação e fizeram da sua criação o ponto alto da música popular que ouvimos no século XX. Ponto alto também da arte que os Estados Unidos produziram. Revelou verdadeiros gênios da invenção musical e serviu de afirmação para quem estava fadado a viver à margem na América que separava (e ainda separa!) os homens pela cor da pele. A fascinante trajetória do jazz não se atém somente aos aspectos da manifestação musical. É esta a investigação que Hobsbawm faz. Sem que abra mão do amor pelo objeto do seu estudo.
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