SILVIO OSIAS
Ariano Suassuna abre mão da inteligência ao atacar língua inglesa
Publicado em 11/02/2017 às 10:47 | Atualizado em 04/04/2023 às 15:18
Ariano Suassuna era o que, no passado, se chamava de reacionário. Estética e ideologicamente (a despeito do vínculo que acabou estabelecendo com a esquerda).
Defendia um nacionalismo anacrônico e o fazia muitas vezes de forma simplista e grosseira. Ainda que fosse engraçado.
Seu reacionarismo não o diminuía como autor. Claro que não! A importância da obra não deve ser confundida com as ideias atrasadas que defendia.
Em 2010, estive na casa de Ariano, no Recife, junto com Gonzaga Rodrigues, Astier Basílio e Gustavo Moura (fazíamos uma entrevista para o Correio das Artes), e saí de lá positivamente impressionado com a sua erudição.
Mas também a me perguntar, com alguma inquietação: como esse homem erudito, com quem acabamos de conversar longamente, usa argumentos tão primários para defender seus pontos de vista?
De vez em quando, vejo vídeos de Ariano Suassuna. Ele e suas falas na aula espetáculo que costumava dar. Aquela fala sobre o guitarrista Ximbinha, Beethoven e o uso equivocado da palavra gênio é irresistivelmente engraçada.
Entre esses vídeos, há os que agridem a inteligência.
Como aquele em que o autor da Compadecida fala mal da língua inglesa.
O exemplo que Ariano dá com a palavra glass não serve nem como humor.
Ora, dizer que a língua inglesa é pobre porque glass é, ao mesmo tempo, copo e vidro, só ilude os incautos.
A língua portuguesa, enaltecida até por Cervantes, também tem manga, que é do verbo mangar, manga de camisa e manga, a fruta. E tantas outras palavras com mais de um significado.
Depois, há os adjetivos pejorativos que Ariano usa contra a língua inglesa. Absolutamente incompatíveis com os estudos da linguística. E, se quisermos, com o respeito entre os povos.
Tudo em nome do seu reacionarismo e de um nacionalismo fora de moda.
Quando vejo esses vídeos, lembro de um conselho que, muito cedo, ouvi do meu pai:
Nunca se deixe enganar pelo reacionarismo estético e ideológico de Ariano Suassuna!
Já que falamos da língua inglesa, fecho com Shakespeare por Marlon Brando. Shakespeare, de quem o erudito Ariano tanto gostava!
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