COTIDIANO
Ver Paul ao vivo é experiência mágica! Não tem preço!
Publicado em 28/04/2017 às 6:55 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:45
Paul McCartney está de volta ao Brasil. Faz quatro shows em outubro. No texto de hoje, falo um pouco da experiência de vê-lo ao vivo.
Vi Paul McCartney ao vivo pela primeira vez em abril de 1990, em duas noites no Maracanã. Também era a primeira vez dele no Brasil. Estava às vésperas de completar 48 anos e corria o mundo numa excursão em que resgatava muitas canções dos Beatles, como ainda não havia feito depois da dissolução do quarteto. O tempo passava, e o músico começava a sentir saudade da juventude. O longo vídeo que abria o show tinha a assinatura de Richard Lester, o cineasta que levara os Beatles ao cinema em A Hard Day’s Night e Help!. E seria dele o documentário (Get Back) com o registro da turnê. O set list ia do rock (novíssimo) Figure of Eight ao medley final do Abbey Road.
Voltei a ver Macca ao vivo em dezembro de 1993, no Pacaembu, em São Paulo. O lugar era menor e dava ao público a sensação de estar num show um pouco mais intimista. O longo set acústico reforçava a ideia. Era resultado do unplugged que o artista gravara para a MTV. Ele e a banda se juntavam num pequeno espaço, no meio do palco, e faziam vários números com violões e um pouco de percussão. Músicas novas, canções dos Beatles, clássicos da primeira geração do rock, soul music – Paul oferecia ao público um espetáculo que parecia ainda mais eficiente do que o da excursão anterior. E difundia, no vídeo de abertura, sua luta em defesa dos animais e do meio ambiente.
A doença e a morte de Linda McCartney tiraram o marido da estrada. O retorno coincidiu com a virada do século. Primeiro, com uma banda de garagem num pocket show no Cavern Club, em Liverpool. Puro rock’n’ roll. Um homem no limiar da velhice experimentava uma volta aos territórios da adolescência. Depois, em longas turnês semelhantes àquelas que haviam passado pelo Brasil em 1990 e 1993. Só que melhores. Tudo se aprimorara: o som, a luz, os músicos. E a ação do tempo ajudava. Paul já tinha idade suficiente para ver as coisas de longe. Como seu público. O resultado era muito mais tocante. Os fãs que o seguiam há décadas incorporavam filhos e netos à plateia.
No mercado, há vários registros disponíveis das turnês de Paul McCartney na primeira década do século XXI. Não só nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Também na Rússia, onde, com a derrocada do comunismo, ele pôde, afinal, cantar. E, com o presidente Putin no meio do público, fazer a Praça Vermelha tremer ao som de Back in the U.S.S.R., o rock outrora banido. Seus shows se consolidaram como extraordinárias celebrações de música, alegria e (para os mais velhos) saudade. Performances impecáveis nas quais Sir Paul não frustra ninguém. Passa três horas em cima do palco apresentando um repertório sem similar no universo da música pop. Com a vitalidade de um jovem roqueiro.
Em 2010, vi McCartney mais uma vez ao vivo em duas noites no Morumbi. Dois anos depois, no Recife. Vi pensando naquele vento abstrato e belo que os Beatles representaram na década de 1960. Testemunhar essas coisas após os 50 é certamente melhor, mas um pouco melancólico. Porque remete ao tempo que passou. Uma balada ingênua como All My Loving agora evoca uma época. Um hino pacifista como Give Peace a Chance traz a lembrança de John Lennon e dos sonhos de uma geração.
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