SILVIO OSIAS
John Kennedy nasceu há 100 anos
Publicado em 29/05/2017 às 5:37 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:45
Nesta segunda-feira (29), faz 100 anos que John Fitzgerald Kennedy nasceu.
Católico, filho de uma família de origem irlandesa, JFK estava com 46 anos quando foi assassinado em Dallas no dia 22 de novembro de 1963.
Kennedy é uma das grandes personalidades do século XX tanto quanto seu assassinato é um dos maiores episódios do século passado.
Onde você estava quando John Kennedy foi assassinado?
Eu tinha apenas quatro anos e meio, mas nunca apaguei da memória. No início da tarde daquele 22 de novembro de 1963, meu pai sintonizou a Voz da América para acompanhar o noticiário. A lembrança ainda é nítida. O rádio Philips em cima de um pequeno móvel no canto da sala, o som cheio dos ruídos da transmissão em ondas curtas. Costumo dizer que os americanos entraram na minha vida ali. Ou que é o primeiro grande fato histórico de que me lembro.
Meu pai era comunista, mas admirava os irmãos Kennedy (Bob mais do que John) e seus esforços na direção de um sonho: uma América que não mais separasse os homens pela cor da pele. JFK crescera em seu conceito na crise dos mísseis, no modo como dialogou com forças antagônicas. Também lhe era atraente a solidez da democracia americana. Talvez como contraponto às nossas históricas instabilidades. Como quem intuía que, dali a pouco mais de quatro meses, os militares deporiam um presidente civil e mergulhariam o Brasil em duas décadas de governos de exceção.
Perguntas que atravessaram o tempo que nos separa do assassinato de Kennedy continuam sem respostas. No início dos anos 1990, ao realizar o filme JFK, o diretor Oliver Stone nos remeteu a elas:
Quem, de fato, matou Kennedy? Todos os tiros foram disparados por Lee Harvey Oswald? Uma grande conspiração está por trás do assassinato? Quem ordenara a execução? O governo cubano? A direita americana? O que levou Jack Ruby, o dono de uma casa de prostituição, a matar Oswald diante das câmeras e da polícia?
Vendo de longe, tenho a impressão de que o mito Kennedy é muito maior do que a realidade. Vivo e reeleito, JFK manteria os Estados Unidos no Vietnã do mesmo modo que apoiaria as ditaduras da América do Sul. O irmão Bob, morto em 1968, parecia mais avançado, mas nunca saberemos. O fato é que a figura que o mundo construiu não pode ser desassociada da sua dimensão trágica. É esta que atravessa o tempo. Somada a sonhos projetados na imagem do jovem presidente e sua bela mulher.
Antes que se completasse meio século do assassinato de Kennedy, os Estados Unidos tinham seu primeiro presidente afrodescendente, o que era impensável em 1963. Agora, no centenário do seu nascimento, têm Donald Trump na presidência, algo fora de qualquer previsão um ano atrás.
Na minha memória afetiva, JFK está guardado como evocação de uma época de muitos conflitos e grandes esperanças.
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