icon search
icon search
home icon Home > cultura > silvio osias
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

SILVIO OSIAS

Chico Buarque faz música porrada sobre nosso apartheid social

Publicado em 20/09/2017 às 7:12 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:44

Muita gente critica Chico Buarque por ele apoiar o PT, Lula, Dilma.

Muita gente não quer mais ouvir suas músicas por causa disso.

Acho uma confusão própria desse momento de intolerância que estamos vivendo. Uma pena.

Lembrei disso ouvindo pela enésima vez Caravanas, o novo disco de Chico.

Ele não leva preferências partidárias para seu cancioneiro. Pois é. E, quando sai do pessoal para o coletivo, escolhe outro caminho. É o que temos em As Caravanas, última faixa do CD.

As Caravanas é o que a gente pode chamar de música porrada!

Sim! Uma música porrada sobre nosso apartheid social!

Forte! Contundente! Corajosa! Admirável!

Chico Buarque no seu melhor!

Ouçam.

No início dos anos 1980, fui ao cinema e vi o trailer de A Idade da Terra, que era o novo filme de Glauber Rocha.

Uma frase do grande cineasta brasileiro, que ouvíamos na voz dele naquele trailer, ficou na minha cabeça:

"Na verdade, o que existe é o mundo rico e o mundo pobre".  

Capitalistas ricos, capitalistas pobres. Socialistas ricos, socialistas pobres.

Parecia Dom Hélder Câmara, mas era Glauber Rocha.

A frase, jamais deletada, remete a um problema crucial do Brasil tanto quanto a música de Chico: as (até aqui) insolúveis desigualdades sociais. A necessidade de uma melhor distribuição de renda.

Tema antigo, permanente, mas sempre colocado em segundo plano. Como agora, enquanto quadrilhas de diferentes matizes ideológicas assaltam o Estado sem que precisem disfarçar que o fazem.

As Caravanas é sobre os pobres do subúrbio ou da favela que "invadem" a praia da classe média no domingo.

No verso "a culpa deve ser do sol", a melodia se confunde intencionalmente com a de Caravan, clássico do repertório de Duke Ellington.

O arranjo tem o toque contemporâneo do funkeiro Rafael Mike, do Dream Team do Passinho. Quer dizer que Chico não está alheio ao funk carioca. Nem contaminado pelo preconceito que atinge as pessoas de "bom gosto" que idolatram sua música, mas fecham os olhos para manifestações que não deveriam ignorar.

A letra é devastadora!

Diz que malocam seus facões e adagas Em sungas estufadas e calções disformes É, diz que eles têm picas enormes E seus sacos são granadas Lá das quebradas da Maré Com negros torsos nus deixam em polvorosa A gente ordeira e virtuosa que apela Pra polícia despachar de volta O populacho pra favela Ou pra Benguela, ou pra Guiné

As Caravanas ficará, no futuro, como uma das grandes músicas de Chico Buarque?

Espero que sim!

Imagem ilustrativa da imagem Chico Buarque faz música porrada sobre nosso apartheid social

Silvio Osias

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp