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COTIDIANO

O jovem Paul Simon já flertava com a música do mundo

Publicado em 09/04/2018 às 6:31 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:43


				
					O jovem Paul Simon já flertava com a música do mundo

Muita gente ainda pensa que o interesse de Paul Simon pela música de outros países, que não os Estados Unidos, só se manifestou em 1986, quando lançou o álbum Graceland. Tudo é mais explícito naquele disco gravado com instrumentistas e cantores da África do Sul nos estertores do regime racista de minoria branca, mas os sinais de que um dia faria algo assim podem ser identificados desde o começo da sua carreira solo, no início da década de 1970 (talvez até antes, nos anos 1960, quando fazia dupla com Art Garfunkel). É só ouvir os quatro discos (três de estúdio, um ao vivo) que o artista gravou logo depois do fim da dupla Simon & Garfunkel.

Tenho grande admiração por Live Rhymin. Sei que não é melhor do que os títulos gravados em estúdio, mas há algumas coisas especiais neste registro ao vivo de 1974. Podemos dividir o repertório em três grupos: o das faixas acústicas, em que o compositor se acompanha apenas ao violão, o dos números com o Urubamba, um grupo peruano, e o do encontro de Simon com o Jessy Dixon Singers, conjunto vocal de negros que cantam gospel. O Urubamba nos dá a nítida impressão de que canções americaníssimas como Duncan e The Boxer são música inca. Ao dividir o palco com o Jessy Dixon Singers, Paul Simon faz The Sound of Silence e Bridge Over Troubled Water soarem como gospel.

Em estúdio, Paul Simon, de 1971, começa com o hit Mother and Child Reunion. É, provavelmente, o primeiro reggae de grande sucesso gravado por um artista branco numa época em que o ritmo jamaicano estava longe de ser tão conhecido como se tornou mais tarde. Neste disco, o violinista francês de jazz Stéphane Grappelli toca blues com Simon, enquanto as cuícas do brasileiro Airto Moreira, como num samba, se fazem ouvir em Me and Julio Down By The School Yard. Mesmo que de modo sutil, Paul Simon já revelava, ali, o interesse dele por sons que ultrapassassem as fronteiras do seu trabalho tal como ficou conhecido na maior parte das gravações feitas na década de 1960 ao lado de Garfunkel.

O melhor disco desta fase talvez seja There Goes Rhymin Simon, de 1973, puxado pelo hit Kodachrome. Mais elaborado do que o anterior, revela um autor que se deixa influenciar por muitas vertentes da música popular dos Estados Unidos. O mesmo pode ser dito de Still Crazy After All These Years, de 1975. A canção-título é uma balada sofisticada, com melodia e letra que só um compositor maduro escreveria. Na faixa I Do It For Your Love, o músico convidado para o solo é Sivuca. Sua sanfona e sua voz, soando como um saxofone, se misturam numa pequena melodia que lembra uma toada nordestina. Antes de pensar na África do Sul, Simon já percorrera um pouco do Brasil.

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Silvio Osias

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