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QUAL A BOA?

Quantos jovens de hoje viram os filmes de Nelson Pereira dos Santos?

Publicado em 22/04/2018 às 6:25 | Atualizado em 22/06/2023 às 13:37


				
					Quantos jovens de hoje viram os filmes de Nelson Pereira dos Santos?

Rever Nelson Pereira dos Santos me entristece.

Em primeiro lugar, porque tenho a convicção de que sua obra é pouco lembrada.

Entremos, por exemplo, numa sala de um curso de letras, ou de jornalismo, ou de história.

Quantos jovens terão visto algum filme de Nelson Pereira dos Santos?

Ou abordemos os que hoje ocupam as editorias de cultura dos veículos de comunicação.

Quantos conhecem o cinema de Nelson?

Em segundo lugar, porque o reencontro com sua filmografia expõe um grave problema do cinema brasileiro: a falta de conservação dos filmes. Algo que dificulta (quando não impede) os processos de restauração.

Fiquemos com El Justiceiro.

O filme só foi restaurado (precariamente) porque havia uma cópia na Europa. As outras foram destruídas pela ditadura militar.

Mas rever Nelson Pereira dos Santos também me alegra e fascina.

Sim, porque significa estar diante do legado de um grande homem do cinema brasileiro. Um dos maiores.

Rever com distanciamento é bom porque já temos, sobre os filmes, o efeito do tempo que passou.

E já podemos fazer o exercício de reinseri-los num outro Brasil, diferente (melhor?, pior?) do país em que eles foram realizados.

O Brasil que Nelson amou incondicionalmente.

O Brasil retratado pelo seu cinema.

Há no mercado dois boxes dedicados ao cineasta.

O primeiro abre e o segundo fecha com tentativas de Nelson de dialogar com grandes plateias, fazendo um tipo de cinema mais popular.

Enquanto Rio, Zona Norte parece juntar a chanchada da Atlântida com o que viria a ser o Cinema Novo, O Amuleto de Ogum flagra o diretor saindo de um ciclo marcado por trabalhos experimentais e herméticos.

Vidas Secas é um clássico absoluto do cinema de qualquer tempo e de qualquer lugar.

Boca de Ouro é talvez a melhor adaptação cinematográfica de Nelson Rodrigues, além de reunir dois homens chamados Nelson, um comunista e um reacionário.

A fase do autoexílio em Paraty coincide com os momentos mais sombrios do regime militar.

Influenciado pelo cinema underground que conheceu nos Estados Unidos, Nelson rompe com a narrativa linear e, certamente, com os conceitos estéticos de um homem de esquerda.

O próximo boxe com os filmes de Nelson Pereira dos Santos virá com Memórias do Cárcere, um dos pontos altos da sua trajetória.

No fim da vida, o cineasta fez dois filmes sobre Tom Jobim.

Um deles se chama A Música Segundo Tom Jobim.

Mas não é isso.

É a música de Tom Jobim segundo Nelson Pereira dos Santos.

Um filme em que as canções substituem as palavras.

Imagem

Silvio Osias

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