COTIDIANO
Não acompanhar a cena cultural não descredencia o jornalista
Publicado em 25/04/2018 às 10:02 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:43
Gente ligada à cena cultural (sobretudo a musical) de João Pessoa - artistas, produtores, público - me critica porque não vou aos shows dos artistas e grupos que estão em evidência na cidade.
Mais do que isso: porque não conheço o trabalho deles.
Em alguns, a queixa exposta nas redes sociais é cordial, civilizada.
Em outros, é grosseira, agressiva.
Alguém até sugeriu, com muito senso de humor, uma campanha que poderia ser chamada de Sílvio Osias saia de casa. Ou coisa parecida.
Vou confessar: me senti mais importante do que na verdade sou.
Sim. Porque sou apenas um jornalista.
Passei 40 anos dentro de redações, vivendo do meu salário, sem nunca ter recorrido (como alguns) a métodos duvidosos para ganhar (muito) dinheiro. E hoje, aposentado e chegando ao limiar da velhice, continuo fazendo o que sempre fiz: escrevendo.
Um comentário chamou minha atenção porque dizia que a ausência descredencia minha opinião.
É necessário falar sobre isto.
O autor do comentário pretendia descredenciar minha opinião em relação a outros assuntos. Não só àqueles relacionados à atual cena musical pessoense. É o que está dito no post.
Já disse e vou repetir: não sou obrigado a acompanhar esta cena musical.
O que não posso fazer é escrever sobre o que não vi, sobre o que não conheço. E isto, nunca fiz.
Para comentar a letra de uma canção de Chico Limeira (ouvi a música, vi o video, li a letra) ou para dizer que Seu Pereira não soube tocar Blowin' in the Wind à guitarra (vi o vídeo), sejamos honestos, não preciso ir ao show deles.
Não conheço o trabalho dos dois.
Vi Chico Limeira e Seu Pereira pela primeira vez na homenagem que fizeram aos 30 anos das afiliadas da Rede Globo na Paraíba. Eles encerraram dois dos três especiais chamados Tempo de 30, exibidos no ano passado pelas TVs Cabo Branco e Paraíba.
De Chico, ouvi rapidamente algumas canções e gostei muito. De Seu Pereira, nunca ouvi nada.
Não escreverei, portanto, sobre o trabalho deles. Até que os conheça. Se, um dia, os conhecer. Se quiser conhecê-los. Com a liberdade de escolha que todos nós, jornalistas ou não jornalistas, temos.
Já atuei profissionalmente acompanhando a cena cultural da cidade. Os que hoje querem me descredenciar nem eram nascidos. Há muitos anos, deixei de acompanhar. Não tenho interesse.
Hoje, quem tem dever profissional de ver tudo é Gi Ismael, jovem repórter da TV Cabo Branco que todos os sábados diz na telinha qual é a boa na cidade.
Eu, não!
O tempo e a experiência me deram a liberdade de escolher sobre o que escrevo.
E escrevo sobre o que conheço.
Esses jovens açodados que escrevem tolices nas redes sociais me remetem a jovens açodados de 30 ou 40 anos atrás. Como não havia redes sociais, eles falavam tolices semelhantes na mesa de bar.
Hoje, cinquentões, votam em Bolsonaro!
Transferiram a intolerância e o ódio deles da esquerda para a direita!
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