SILVIO OSIAS
Caetano, um não religioso, fez música para cantar na missa
Publicado em 24/07/2018 às 8:13 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:38
No início da turnê, o show de Caetano Veloso com os filhos se chamava Caetano Moreno Zeca Tom Veloso. Depois, passou a ser chamado Ofertório, nome de uma das canções, também do CD e do DVD ao vivo.
Ofertório está percorrendo a Europa.
O CD (um highlights com 14 faixas) e o DVD (o show na íntegra) foram lançados há pouco.
O título vem de uma música que Caetano compôs para ser cantada em Santo Amaro, na missa dos 90 anos de Dona Canô, sua mãe. Tem, portanto, mais de duas décadas.
É uma das grandes belezas desse show. O artista diz no palco que os filhos são religiosos. Zeca e Tom, os mais jovens, são cristãos. Moreno, o mais velho, é do candomblé. Caetano é ateu. Ou irreligioso. Ou não religioso.
Mas fez uma música para ser cantada na hora do ofertório.
Não há a palavra Deus na letra. Há o Senhor da Vida (assim mencionado em outros cânticos de ofertório).
Encanta os que oscilam entre a crença e a ausência de crença. Encanta porque, no fundo, fala do diálogo possível entre o religioso e o não religioso.
Ofertório traz um ateu debruçado sobre um dos momentos mais significativos da missa.
É belo porque vem de um autor excepcional como Caetano. Mas é belo sobretudo porque é diferente do que se ouve na missa. O sentido do ofertório traduzido com outras palavras. Com outra sensibilidade. Mas com reverência ao ritual católico.
Na juventude, Caetano compôs uma Ave-Maria, gravada no seu disco tropicalista, de 1968, e no LP de estreia de Joyce, também de 1968. Agora, às vésperas dos 76, ouvimos o Ofertório que escreveu depois dos 50.
É uma canção comovente.
Ouçam.
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