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COTIDIANO

UM PAI NO MUNDO DA LUA!

Publicado em 12/08/2018 às 13:32 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:38

A corrida espacial começou no dia quatro de outubro de 1957, quando a União Soviética colocou um satélite artificial (o Sputnik) em órbita da Terra. Os americanos vieram depois.

Satélites, voos suborbitais, animais em órbita (a cadelinha Laika) e, finalmente, o homem.

Yuri Gagarin foi o primeiro, no dia 12 de abril de 1961. O cosmonauta soviético, a bordo da nave Vostok, resumiu tudo numa frase:

A Terra é azul!

No início dos anos 1960, os americanos criaram um programa internacional de rastreamento de satélites. Eles queriam saber o instante exato em que aqueles pequenos pontos luminosos cruzavam os céus das cidades do mundo.

O programa se chamava Moonwatcher e foi desenvolvido pelo Smithsonian Institute. Os voluntários que o instituto reuniu foram batizados como moonwatchers e receberam riquíssimas cartas celestes, um cronômetro suíço de absoluta precisão, um pequeno telescópio e crédito telegráfico para o envio das informações.

O Brasil teve apenas dois moonwatchers. Um deles era paraibano. Montou seu modesto posto de observação no quintal da casa onde morava, no bairro de Jaguaribe, aqui em João Pessoa.

Foram centenas de observações. Milhares, talvez. Todas enviadas aos americanos. Um admirável trabalho num tempo de comunicações precárias e sem os recursos tecnológicos que a própria corrida espacial ajudaria a desenvolver.

Em 1968, o pequeno telescópio ficou obsoleto. O Smithsonian Institute enviou outro, mais moderno, mais potente. O equipamento ficou preso na alfândega. O governo brasileiro não facilitou a liberação. O moonwatcher não admitiu pagar propina e abandonou o programa.

O rastreamento de satélites saiu da sua vida no turbulento ano de 1968, mas não o amor à astronomia. Na virada da década de 1960 para a de 1970, ainda teve uma passagem pelo Observatório Astronômico da Paraíba.

Depois, apenas contemplava o céu à noite. E dividia com as pessoas a alegria de observar os astros.

O moonwatcher paraibano se chamava Onildo Lins de Albuquerque. Era meu pai. Comunista, ateu, homem dividido entre a precisão dos números e as angústias do ser.

Imagem

Silvio Osias

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