COTIDIANO
Relendo o poeta CAETANO
Publicado em 17/10/2018 às 9:01 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:37
Relendo o poeta Caetano Veloso no livro Letra Só.
Como é grande.
Como é atual.
Na próxima semana (quinta, 25), ele e os filhos trazem o show Ofertório ao teatro A Pedra do Reino, em João Pessoa.
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento no planalto central
Do país
Minha paixão há de brilhar na noite
No céu de uma cidade do interior
Como um objeto não identificado
Eu, você, depois
Quarta-feira de cinzas no país
E as notas dissonantes se integraram
Ao som dos imbecis
Tudo o que eu quero é um acorde perfeito maior
Com todo mundo podendo brilhar num cântico
Canto somente o que não pode mais se calar
Noutras palavras, sou muito romântico
Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor
Vertigem visionária que não carece de seguidor
Nu com a minha música, afora isso somente amor
Vislumbro certas coisas de onde estou
O samba é pai do prazer
O samba é filho da dor
O grande poder transformador
Gente é pra brilhar
Não pra morrer de fome
Você é linda
E sabe viver
Você é linda, sim
Essa canção é só pra dizer
E diz
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio
O Brasil tem ouvido musical
Que não é normal
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da América católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Aqui tudo parece que é ainda construção é já é ruína
Tudo é menino e menina no olho da rua
O asfalto, a ponte, o viaduto ganindo pra lua
Nada continua
A mais triste nação
Na época mais podre
Compõe-se de possíveis
Grupos de linchadores
Americanos não são americanos
São os velhos homens humanos
Chegando, passando, atravessando
São tipicamente americanos
Terra, Terra
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
E deixa os Portugais morrerem à míngua
Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira! Fala!
Mas eu também sei ser careta
De perto ninguém é normal
Às vezes segue em linha reta
A vida que é meu bem, meu mal
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