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COTIDIANO

Avôs e avós, netos e netas. A propósito de Lula e Arthur

Publicado em 04/03/2019 às 10:25 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:36

Meu avô paterno se chamava Onaldo.

Minha avó paterna se chamava Isaura.

Meu avó materno se chamava José Osias.

Minha avó materna se chamava Stella.


				
					Avôs e avós, netos e netas. A propósito de Lula e Arthur

Meu avô Onaldo era militar. Lutou em 32 pelas forças getulistas e levou um tiro na nuca. Sobreviveu e foi reformado. Militou na UDN, foi gráfico em A União, fez poesia, escreveu dois livros, era espírita. Com ele, ouvi Orlando Silva & Pixinguinha & Luiz Gonzaga. No Natal de 1967, me deu de presente o disco com as músicas do festival de Alegria Alegria e Domingo no Parque.

Minha avó Isaura era uma mulher melancólica. Parecia estar sempre triste. Uma foto que guardo cuidadosamente revela que fora muito bonita na juventude. Foi quem me mostrou Quem Sabe, de Carlos Gomes, dizendo o quanto aquela música era bonita. Ficou para sempre associada a ela. Morreu quando eu tinha quinze anos. Foi meu primeiro contato muito próximo com a morte.

Meu avô Osias dizia que era nobre. Pertencia à família do Barão de Lucena. O barão faliu e ficou conhecido como "barão do nada tem". Meu avô veio de Olinda, conheceu minha avó no carnaval de 1920, em Bananeiras. Foi ele que me ensinou a andar de bicicleta e a jogar xadrez. Dizem que era durão, mas conheci seu lado terno. Lia compulsivamente e adorava As Mil e Uma Noites. Não gostava de música.

Minha avó Stella tinha liderança na paróquia do bairro. Comandava as Mães Cristãs. Era irresistivelmente eloquente. Conquistava pela fala. Juntos, ouvimos muita música, os clássicos e os populares, os antigos e os novos. Foi ela que me levou para ver A Noviça Rebelde na estreia. Na velhice, descobriu a música de Egberto Gismonti. Ficaram amigos - uma experiência humana riquíssima da qual fui testemunha.

Avôs e avós.

Figuras especialíssimas na vida da gente.

Um amor diferente do amor de pai e mãe, mas de uma força incomum.

Netos e netas.

Também muito especiais na vida dos avôs e avós.

Amores essenciais na travessia dos verdadeiros homens humanos.

Imagem

Silvio Osias

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