SILVIO OSIAS
Stoneanos que são bolsonaristas deviam era ter vergonha na cara
Publicado em 12/09/2019 às 8:01 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:40
Pleased to meet you Hope you guess my name
Descobri num grupo que fãs brasileiros dos Rolling Stones estão brigando por causa de Bolsonaro.
Aqui na coluna, escrevi o que penso sobre o assunto: fãs dos Rolling Stones e bolsonaristas são incompatíveis.
Não estou censurando o gosto de ninguém, mas é que são mesmo.
É uma incoerência absoluta.
A menos que você só conheça muito superficialmente a banda e, a partir dessa superficialidade, diga que gosta.
Quem conhece de verdade, quem ama os caras e a música deles, quem tem todos os discos, quem viaja para vê-los ao vivo, quem acompanha há décadas - esses não podem ser bolsonaristas.
Não há como combinar uma coisa com a outra. Elas não se misturam.
Os Rolling Stones não coincidem em nada com a burrice da extrema direita brasileira.
Mick Jagger está para Obama, jamais para Trump.
Nesta quarta-feira (11), muitos comentaram meu texto, e a briga entre os stoneanos continuou.
Vou confessar: de tão estúpida, ficou engraçada.
Sabem o que fiz? Fui rever o documentário Havana Moon, lançado no final de 2016.
Minhas impressões?
Estão aí:
Não sem alguma ironia, a voz em off de Keith Richards diz no início do filme que a ida de Barack Obama a Cuba foi como uma abertura para o show dos Rolling Stones.
A estreia da banda em Havana tem significado simbólico forte. Marca o reatamento das relações entre Estados Unidos e Cuba e ilustra os estertores do ciclo de poder dos irmãos Castro.
Se quisermos, o filme é sobre esse tema. Mas com abordagem sutil e olhar simpático e respeitoso.
Houve a Revolução e suas conquistas. E houve o declínio com o fim do subsídio soviético. Os ganhos na saúde e na educação sempre se contrapuseram às restrições das liberdades individuais.
Havana Moon toca nessas questões sem precisar entrar nelas. Indiretamente, aparecem nas falas de Mick Jagger e Keith Richards que abrem o documentário. E no que eles dizem no palco, durante o concerto.
Jagger se estende mais, ao mencionar a censura ao rock.
Richards resume: Havana, Cuba e os Rolling Stones. Isto é incrível!
As imagens falam mais alto. Da memória da Revolução estampada no muro à pobreza do povo.
Jagger conta para a multidão em êxtase que viu a rumba de perto na Casa da Música. O diálogo se dá através da arte. É mais fluente do que nas relações políticas.
Buena Vista Social Club tem um anticomunismo que soa mal. Havana Moon não tem.
É como se os Stones repetissem o que Obama disse ao discursar diante de Raul Castro: que o destino de Cuba está nas mãos dos cubanos.
Aquela alegria toda, no palco e na plateia, é, então, para dizer isso: celebremos com música, mas o destino de vocês está nas suas mãos.
A música que os cubanos ouvem ao vivo pela primeira vez tem seu ponto alto numa "blues suite".
É Midnight Rambler, que se estende por muitos minutos e resume o que os Stones são.
Naquela noite de 25 de março de 2016, eles se projetaram como a luz do luar sobre a noite de Havana.
Velhos, mas ainda muito intensos.
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