SILVIO OSIAS
Em 69, frevo de Caetano Veloso fez Brasil descobrir o trio elétrico
Publicado em 24/02/2020 às 5:46 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:38
Salvador, 16 de março de 1980.
Sábado de carnaval.
Era quase noite quando o caminhão posicionou-se na Praça Castro Alves.
As pessoas se aproximaram, e os primeiros sons ainda não eram do frevo.
O cantor do trio começou, numa cadência lenta:
"Vem, meu amor feito louca, que a vida tá pouca e eu quero muito mais".
Logo, logo, a coisa virou frevo e o grupo jogou luz, muita luz, sobre a multidão:
"Pra libertar meu coração, eu quero muito mais que o som da marcha lenta".
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Essa foi a primeira - e inesquecível! - visão que eu tive do fenômeno ao vivo.
Era o Trio Elétrico Dodô & Osmar, com Armandinho na guitarra principal e Moraes Moreira como cantor.
Àquela altura, a invenção que tanto orgulha o povo baiano completava 30 anos.
Até 1969, estava restrita à Bahia.
A dimensão nacional foi conquistada a partir do frevo Atrás do Trio Elétrico, que Caetano Veloso gravou quando estava confinado em Salvador, antes de partir para o exílio em Londres.
O que foi se consolidando nos anos seguintes, o Brasil inteiro conhece: a transformação do carnaval de Salvador numa gigantesca festa popular. Sim. E um grande negócio movido pela música que os baianos produzem.
Uma série de LPs lançados anualmente pela Continental a partir de meados da década de 1970 registra toda a beleza do trabalho do Trio Elétrico Dodô & Osmar.
Nesses discos, há muitos temas instrumentais e contagiantes frevos cantados por Moraes Moreira.
O primeiro, gravado para o carnaval de 1975, festejava o jubileu de prata.
Quando vi ao vivo, o trio fazia 30 anos.
Agora, neste carnaval de 2020, comemora seus 70 anos. Já se aproxima dos 80 carnavais da letra de Bloco do Prazer.
O tempo passou, mas a invenção sobreviveu.
O trio elétrico é um argumento eficaz contra os que querem cortar o barato da música popular brasileira, disse Caetano Veloso.
Viva Dodô & Osmar!
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