SILVIO OSIAS
Gilberto Dimenstein e o show de Bobby McFerrin que ele não viu
Publicado em 29/05/2020 às 11:59 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:36
Meses atrás, o jornalista e escritor Gilberto Dimenstein deu uma admirável entrevista.
Estava com câncer no pâncreas, tinha total consciência da gravidade da doença, mas parecia nutrir alguma esperança.
Comprara até passagens para Nova York e ingressos para o show que Bobby McFerrin faria neste maio que está terminando, no Lincoln Center.
O grande cantor de jazz ia se apresentar nos dias 22 e 23.
O detalhe do show de McFerrin na entrevista de Dimenstein ficou retido na minha memória como um instantâneo do homem diante da morte.
Maio. É tão perto. Estarei vivo para voltar a Nova York e ouvir aquela voz maravilhosa ao vivo? - há de ter pensado.
O jornalista estava num trem em alta velocidade - era sua vida - e saltou para tentar ver o que não via. Coisas muito pequenas, como um passarinho na vegetação do seu quintal.
A morte não é o fim, é o começo - disse. Quase do mesmo jeito que ouvi o oncologista dizer a uma paciente terminal: a vida não acaba com a morte.
Ontem, cá com minhas intuições, pensei em Dimenstein. Maio está acabando, o show de McFerrin foi cancelado por causa da pandemia, como ele estará?
Nesta sexta-feira (29), Gilberto Dimenstein morreu.
Tinha 63 anos.
Paulistano, judeu, era um dos grandes jornalistas brasileiros.
Foi um dos grandes jornalistas da minha geração.
Quando tento ser sucinto e objetivo, dizer as coisas com poucas palavras, com clareza, penso muito nos seus textos.
Acho que é uma das suas lições.
O outro legado extraordinário de Dimenstein é o jornalismo preocupado e engajado em causas sociais.
Hoje, ouçamos Bobby McFerrin por ele.
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