Os difíceis caminhos da produção cultural em tempo de pandemia

Nesta segunda-feira (08), cedo a coluna para uma reflexão do ator e produtor cultural paraibano Buda Lira.

O tema, naturalmente, são os desafios do setor cultural hoje e depois da pandemia do novo coronavírus.

HÁ DE HAVER MAIS COMPREENSÃO...

Buda Lira

São quase três meses de recolhimento necessário por parte da população brasileira, numa luta dramática para conter o avanço da pandemia causada pela Covid-19, em meio a uma crise social aguda, fortes ataques de setores radicalizados em posições ultraconservadoras e atitudes irracionais.

Muitos setores sociais são afetados diretamente com esta situação, notadamente os profissionais de saúde que lidam diuturnamente no atendimento às pessoas acometidas pela doença, mas também milhares de outras pessoas que perderam os seus empregos e rendas num cenário de grave crise econômica que já se arrastava nos últimos anos.

A área de cultura, que depende da relação direta com pessoas em pequenos ou grandes espaços, parou quase que por completo, restando a algumas pessoas de grande ou pequeno prestígio o contato através de suas lives, mas que deixam de fora – necessário frisar – um contingente expressivo de técnicos, sem contar com os vendedores de lojas relacionadas à cadeia produtiva da cultura e também os ambulantes que atuavam próximos das casas de entretenimentos e eventos.

O que se observa como resposta ao desemprego, à falta de renda, são os inúmeros atos de solidariedade aos setores mais vulneráveis, em extrema dificuldades de se manter as necessidades básicas, ao mesmo tempo em que se viu levantar um movimento de aproximação de pessoas na busca de soluções para exigir dos entes federados uma resposta a um setor importante da economia brasileira. A Cultura representa 2,64%  do PIB nacional, são 200 mil empresas, 10,5 bilhões em impostos e uma taxa de 4,6 % de crescimento.

Do Governo Federal, não se podia esperar nada. Além dos ataques constantes aos setores, desde as eleições, a própria falta de resposta adequada na área da saúde e o asfixiamento de todas as instituições e dos programas de cultura de responsabilidade do Executivo. A Cinemateca, por exemplo, tem sido o alvo dessa política perversa do Senhor Bolsonaro.

Veio, então, do Congresso Nacional a resposta sensível à crescente mobilização dos setores culturais em todo o país com a aprovação da Lei Aldir Blanc - Emergência Cultural, somada à iniciativa de alguns governos estaduais e, no caso da Paraíba, de alguns deputados estaduais.

Em síntese, observa-se, em meio a toda essa crise, a retomada de uma aproximação mais efetiva dos setores culturais em todo o país. Na Paraíba, há iniciativas nessa direção e, espera-se, que se ampliem para além da justa cobrança por uma Política de Cultura estruturante, inclusiva socialmente e de forma articulada entre o estado e os municípios, em diálogo com a sociedade civil. Esse entendimento depende também da capacidade de organização dos segmentos culturais.

Por fim, arrisco dizer que deve haver mais espaços para compreensão, cooperação e solidariedade em toda a sociedade, especialmente num país com históricas desigualdades sociais.

Na produção da arte, é possível que os próximos atos pós-pandemia exijam que se (re) inventem novas formas de relação no trato com a produção cultural, de modo a fazer com que as muitas expressões já conquistadas, acumuladas nas despensas e prateleiras dos artistas, possam chegar a mais pessoas.

Buda Lira é ator e produtor cultural