SILVIO OSIAS
Martinho Moreira Franco era do grupo dos que trabalharam com governo e conservaram as mãos limpas
Publicado em 06/02/2021 às 16:09 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:53
Neste sábado (06), perdemos Martinho Moreira Franco para o câncer.
Acompanhei com alguma proximidade os problemas de saúde que enfrentou, mas, ainda assim, fui surpreendido pela velocidade com que a morte chegou.
Nas nossas últimas conversas, ele mantinha um otimismo que, em mim, se foi quando soube do resultado do pet scan que fizera. Era um quadro que guardava semelhança com o de Nelma Figueiredo, que nos deixou em 2018.
Conheci Martinho em 1974, na época em que me aproximei de Antônio Barreto Neto.
Eu era um menino de 15 anos, querendo ser crítico de cinema. Eles - e outros mais - eram os caras da crítica.
Martinho vinha do cineclubismo e - muitos não sabem - tivera uma breve passagem pelo trotskismo.
Na primeira metade da década de 1970, quando o conheci, já não militava mais como crítico. Trabalhava na comunicação do governo. Fez isso por longos anos e muitas administrações estaduais.
Nele, admirava o texto primoroso, preciso, irretocável. Não só jornalístico, literário também.
E admirava o homem. Fico com essa tradução: era do bem, como se costuma dizer.
Nossas conversas, que foram ficando nostálgicas à medida em que envelhecíamos, eram, preferencialmente, sobre cinema e música.
As paixões dele.
As minhas paixões.
As afinidades.
Entre elas, o amor por Roberto Carlos.
Gostava imensamente de tê-lo como leitor porque não abria mão da crítica que julgava necessária.
"O amigo pecou pela pressa" - foi o que me disse quando registrei a morte de Michel Legrand. Fazia assim.
E, claro, era seu leitor desde sempre. Nos últimos tempos, com um interesse especial pelo irresistível memorialismo dos artigos em A União.
Em Martinho Moreira Franco, há algo que não quero deixar de mencionar: ele fez parte do grupo dos que trabalharam com governo e saíram de mãos limpas. Ocupou cargos, mas nunca deixou de ser o Martinho das intermináveis noites nos "escritórios" que frequentávamos.
De uns cinco anos para cá, nossas conversas diárias eram pelo whatsapp.
Usava bem o aplicativo, mas pedia socorro quando queria encontrar uma música no Youtube.
Vai me fazer muita falta.
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