POLÍTICA
Democracia não deve celebrar golpe nem ditadura militar nesse atípico 31 de março
Publicado em 31/03/2021 às 6:24 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:52
"Caiu como um castelo de cartas".
A frase é do general Antônio Carlos Muricy, que fala pelos golpistas de 64 no documentário Jango.
Nesta quarta-feira (31), faz 57 anos que os militares depuseram o presidente João Goulart e iniciaram uma ditadura que se estendeu por longos 21 anos.
No tempo dos governos de exceção, a data era comemorada.
Com a redemocratização, foi se restringindo aos quartéis.
Defensor da ditadura, Bolsonaro quis retomar a exaltação ao movimento que, muito equivocadamente, já foi chamado de Revolução.
Este 31 de março de 2021 é completamente atípico.
E é irônico que assim seja quando o Brasil tem como presidente um homem que, antes de ser político, foi militar e encheu o seu governo de militares.
O aniversário do golpe coincide agora com uma grave crise entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e as Forças Armadas.
A mais grave - dizem alguns analistas - desde que, em 1977, o general Sylvio Frota, ministro do Exército, quis derrubar o presidente Ernesto Geisel.
Voltando no tempo, lembro que o Brasil tinha os ministérios do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. No final dos anos 1990, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, com a criação do Ministério da Defesa, as Forças Armadas passaram a ter comandantes e não mais ministros, sob o comando de um ministro civil.
FHC, que já foi considerado um sociólogo de esquerda, o ex-líder operário Lula e a ex-guerrilheira Dilma atravessaram seus governos sem que os militares se afastassem do que a eles é estabelecido pela Constituição de 1988.
Bolsonaro - como Temer - botou um militar no Ministério da Defesa.
Há dois dias, o general Azevedo e Silva (Foto: reprodução) foi demitido por não concordar com os devaneios golpistas do presidente.
Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica decidiram entregar os cargos, mas Bolsonaro se antecipou e os defenestrou.
Nesta terça-feira (30), o general Braga Netto, novo ministro da Defesa, disse que o 31 de março é data a ser celebrada.
Uma democracia não deve comemorar golpe de estado nem ditadura militar. Fere a ordem constitucional.
É cedo para enxergar as consequências do que ocorreu nas últimas 48 horas, a partir da demissão de Azevedo e Silva.
Mas, ao menos, parece ter ficado claro que o presidente Jair Bolsonaro não pode usar a expressão "meu Exército".
As Forças Armadas deram positiva demonstração de que não querem se afastar da Constituição, muito menos se envolver em aventuras golpistas.
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