POLÍTICA
Tomei a primeira dose da vacina e não senti qualquer emoção!
Publicado em 05/04/2021 às 5:44 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:52
Fui vacinado neste sábado (03) em João Pessoa.
Tomei a primeira dose da Coronavac (Foto: divulgação), do Instituto Butantan, aquela que o presidente Jair Bolsonaro chamou de Vachina.
Escolhi a Escola Leonel Brizola porque soube que ali não havia um grande movimento, mas achei simbólico que tenha sido num lugar com o nome desse grande brasileiro - um político cujo sonho era educar muito bem as nossas crianças.
Também achei simbólico que o ex-governador Ricardo Coutinho estivesse na mesma fila que eu.
Já vacinado, ele passou por mim, e nos cumprimentamos brevemente, como mandava a ocasião.
A Ricardo podem ser atribuídos muitos defeitos e grandes erros, mas, quero ser justo, tenho a convicção absoluta de que, sob o seu governo, a Paraíba estaria enfrentando com muito maior eficiência e coragem a pandemia do novo coronavírus.
Acho importante que pessoas públicas - cantores, compositores, atores, atrizes, políticos - postem fotos sendo vacinadas, e que isto vire notícia.
Sim, porque, do outro lado, há um governo que tem grande responsabilidade sobre a dimensão dessa tragédia que ora enfrentamos.
Mas, sendo muito sincero, discordo dos anônimos - gente como eu e você - que fazem isso. É, em muitos casos, mais um gesto que faz parte dessa incontrolável necessidade de exibição do mundo atual.
Vacina, sim.
Viva o SUS.
Viva a ciência.
Aplausos para todos os profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate à Covid-19.
E - se quiserem - fora Bolsonaro.
Bolsonaro genocida.
Impeachment já.
Concordo com tudo isso.
Mas, me perdoem, tomar a vacina foi uma outra coisa para mim.
Emoção?
Zero!
Alegria?
Zero!
Apenas a consciência do quanto é imprescindível ser vacinado. Do quanto a população brasileira precisa ser vacinada em massa e de forma muito mais veloz do que está sendo.
Meu real sentimento, naquele ginásio da Escola Leonel Brizola e depois que saí dele, foi de tristeza.
Tristeza porque o Brasil perdeu o controle da pandemia.
Tristeza porque mais de 330 mil brasileiros perderam a vida e logo serão 400 mil.
Tristeza por causa do colapso hospitalar.
Tristeza por causa do quase colapso funerário.
Tristeza pelas pessoas próximas que morreram e pelas figuras públicas que amamos e que não estão mais entre nós.
Tristeza porque o Brasil não tem até hoje um plano de enfrentamento da pandemia elaborado pelo governo federal.
Não fosse a ação de governadores e prefeitos, estaríamos em situação muito pior.
Tristeza porque o presidente sabotou o combate à doença, sabotou a vacina e desautorizou (desautoriza) sistematicamente os seus ministros da Saúde.
Tristeza porque o presidente estimulou a população a não usar máscaras e a provocar aglomerações.
Tristeza porque o presidente defendeu o uso de medicamentos que a ciência comprovou ineficazes.
Tristeza porque, enquanto os hospitais estão cheios de pacientes intubados, o presidente está pensando em aventuras autoritárias.
Tristeza porque as instituições tardam em fazer algo para deter o presidente, evitando um desastre político, institucional e econômico ainda maior do que o que já temos.
Tristeza, em síntese, porque estou às vésperas dos 62 anos e jamais testemunhei no Brasil tragédia com a dimensão dessa de agora.
E, sobretudo, porque continuamos sem luz alguma no fim do túnel.
Deus nos proteja! - é o que, com as mãos para o alto, devem bradar o tempo todo os que creem.
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