SILVIO OSIAS
A arte contemporânea de José Rufino numa (muito) bem editada Fortuna Crítica Selecionada
Publicado em 19/05/2021 às 7:03 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:51
Recebi o livro Fortuna Crítica Selecionada dedicado ao artista paraibano José Rufino (Foto: reprodução).
Foi (muitíssimo bem) editado por A União.
O organizador é Eduardo Augusto de Carvalho.
O amor dele pelos livros ("os livros são objetos transcendentes, mas podemos amá-los do amor táctil..." - já cantou Caetano Veloso) vem dos anos nos quais trabalhou no Sebo Cultural somados ao tempo que passou na Livraria Leitura.
Agora, ele assessora a Diretoria de Mídia Impressa de A União.
A primeira coisa que chamou minha atenção nessa fortuna crítica organizada com tanto zelo por Eduardo foi o dilema contemporaneidade versus ausência de contemporaneidade colocado no nosso contexto aqui da Paraíba.
Não tenho com os criadores do universo de Rufino a intimidade que costumo ter em relação à música e ao cinema, mais à primeira do que ao segundo.
Mas presto atenção, contemplo e gosto muito de ouvir quem entende do assunto.
Vou partir de um exemplo.
Flávio Tavares é praticamente uma unanimidade entre nós, os paraibanos que observam e se interessam pelas artes plásticas.
É muito comum que as pessoas digam que, dos artistas paraibanos vivos e em atividade, ele é o maior de todos.
Mas, de contemporâneo, Flávio não tem absolutamente nada - me asseguram alguns experts.
É um artista importante, porém anacrônico, fora do tempo.
Ele enfrenta algum dilema por essa obsolescência?
O livro dedicado a Rufino me remete a essa discussão.
Vendo Rufino, estamos diante de um artista efetivamente contemporâneo, muito marcado por suas origens, pelo passado, porém perfeitamente alinhado à contemporaneidade da arte.
Se já pensava que isso é essencial em José Rufino, me convenço mais ainda lendo essa compilação de textos sobre ele, agora organizada por Eduardo Augusto.
Essa Fortuna Crítica Selecionada é um roteiro para você, leitor, se aproximar e se interessar pela criação de José Rufino.
Nascido em João Pessoa há 55 anos, professor, filho de um casal de comunistas, já premiado pela Associação Brasileira dos Críticos de Arte, Rufino é hoje riquíssima expressão da arte paraibana, com reconhecimento nacional e também internacional.
"Ele encontra na dissonância de vozes que o fundaram como sujeito, o chão e o salto de onde irá assumir uma busca e uma invenção que não aplainam o turvo da existência" - escreve Bianca Dias, psicanalista, crítica de arte e escritora em texto inserido nessa compilação.
Essa Fortuna Crítica Selecionada confirma a vocação que A União tem para editar bem livros bons.
Que venham outros.
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