icon search
icon search
home icon Home > cultura > silvio osias
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

SILVIO OSIAS

Jurandy Moura botou a cabeça sobre meu ombro como em Perdidos na Noite. Livro de A União resgata a sua poesia

Publicado em 26/05/2021 às 13:59 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:51


				
					Jurandy Moura botou a cabeça sobre meu ombro como em Perdidos na Noite. Livro de A União resgata a sua poesia

"Onde sou, que me perdi? Onde sou, que não sou, que me perdi?" Jurandy Moura

É bem fiel essa fotografia.

Jurandy Moura.

Os cabelos longos e cacheados.

A miopia acentuada num tempo em que as lentes eram muito grossas e pesadas.

Um sinal perto do lábio inferior.

Eu, na passagem da infância para a adolescência, o acompanhava de longe por causa do meu interesse pela crítica de cinema.

No final da tarde de 24 de julho de 1972 - até a data ficou na memória -, o carro da reportagem de A União parou na frente da nossa casa, em Jaguaribe, e Jurandy, que estava atuando como repórter naquele momento, fora entrevistar meu pai, astrônomo amador, sobre o eclipse da lua que ocorreria na madrugada de 26 de julho.

Jurandy Moura em nossa casa, sentado no terraço!

Não acreditei. Perguntei, para ter certeza, e, diante da confirmação de que era ele mesmo, ainda trocamos duas ou três palavras sobre cinema.

Dois anos depois, quando Antônio Barreto Neto foi o avalista do meu ingresso numa redação, no velho Correio da Barão do Triunfo, meu primeiro editor foi justamente ele, Jurandy, a quem eu, muitas vezes, chamava apenas de Jura.

Que cara incrível! Cinema, música (adorava os discos de Nara Leão), literatura, muita poesia. E as grandes e irresistíveis conversas.

Estivemos juntos ali no Correio de Teotônio Neto e, mais tarde, em A União. Editava o Correio das Artes.

Quando disseram, mas penso que era lenda, que a Censura não nos permitiria ver seu Padre Zé Estende a Mão, eu disse algo assim: "Bicho, a gente não pode ficar sem ver seu filme".

Ao que ele respondeu, morrendo de rir: "É tão simples. será exibido num festival de cinema da Polônia".

Perto do final de 1980, num início de noite, o repórter policial Joel de Brito entrou na redação e nos deu a informação. Houvera um acidente de carro grave, e o morto, muito provavelmente, era Jurandy Moura.

Corremos ao IML, que funcionava ao lado do Cemitério da Boa Sentença. Acompanhei Gonzaga Rodrigues e Agnaldo Almeida.

E lá estava, sobre a pedra, o corpo sem vida de Jurandy.

Gonzaga e Agnaldo não tiveram forças e não entraram no necrotério. Conduzido pela juventude, nos meus 21 anos, entrei e foi daquele jeito, nu, com as marcas do acidente, que vi meu amigo pela última vez.

Dois dias antes, numa conversa de redação, ele me dera um afetuoso abraço, pondo a cabeça no meu ombro. Um pouco como na desfecho de Perdidos na Noite.

Falávamos do filme, e eu vestia, ali, uma camisa de surfista, dessas bem coloridas, parecida com a de Dustin Hoffman no desfecho da história.

Jurandy repetiu a cena, como se fosse o personagem de Jon Voight.

Ele só tinha 40 anos.

*****

Escrevo esse texto, meio com cara de crônica, para fazer um registro.

Bateram no meu portão, dias atrás, e era a entrega de um pacote a mim enviado pela direção de A União.

Quando abri, lá estava o pequeno e delicado livro: Iluminuras e outros poemas, de Jurandy Moura.

Não sou crítico literário. Não vou comentar o conteúdo do livro.

Mas não posso deixar de registrar a importância desse lançamento.

Com Iluminuras, A União, por onde passei já por quatro vezes, faz justiça tanto a um homem com o talento que Jurandy tinha como cumpre imprescindível papel ao resgatar para a história da nossa produção cultural os versos por ele produzidos.

Imagem ilustrativa da imagem Jurandy Moura botou a cabeça sobre meu ombro como em Perdidos na Noite. Livro de A União resgata a sua poesia

Silvio Osias

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp