SILVIO OSIAS
Bom mesmo é quando quem é gay pode assumir que é gay
Publicado em 30/06/2021 às 6:37 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:51
GLS.
A sigla era assim. Lembram?
G de gays, L de lésbicas, S de simpatizantes.
Eu me enquadrava nela. No S de simpatizantes.
Meus pais também. Creio que mesmo antes da sigla existir.
Na casa da minha juventude, não havia diferença entre ser hétero ou ser homo.
Os frequentadores eram amigos e amigas.
LGBTQIA+.
Agora, a sigla é assim.
Junho é o mês do orgulho gay. Então, nesta quarta-feira (30), trato do tema.
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Vi, nas redes sociais, a moça linda e corajosa ostentando a bandeira multicolorida e festejando o mês do orgulho gay.
Fiquei feliz por ela e pelas lições que há no gesto.
Há 40, 50 anos, vi amigos crescendo atormentados porque não podiam assumir a sua homossexualidade.
Havia a família a fingir que não enxergava o óbvio e o mundo lá fora cheio de preconceitos.
Hoje, entro no ambiente de trabalho, e um colega, ao me oferecer uma deliciosa fatia de bolo, diz que quem fez foi o marido.
Acho admirável.
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Há avanços notáveis.
Três dias atrás, quando fomos todos surpreendidos pela morte de Artur Xexéo, as notícias diziam assim:
"O jornalista vivia com o marido há 30 anos".
A mídia, bem mais tarde do que a teledramaturgia da Globo, afinal assumiu que homem não casa só com mulher.
Homem também casa com homem e mulher também casa com mulher.
Entre os políticos, o debate ainda permanece no atraso.
Ao assumir que é gay, o candidato - a não ser aquele que é militante da causa - corre o risco de perder votos.
É como assumir que é ateu. Ou que fumou maconha na juventude. Fernando Henrique Cardoso sabe bem disso. O preço que pagou pela maconha o levou a uma sempre duvidosa "conversão" religiosa.
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Mas, voltando ao universo LGBTQIA+, o bom mesmo é quando quem é gay pode assumir que é gay.
Como tantas outras questões importantes, vejo isso como uma luta imprescindível ao nosso processo civilizatório.
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