QUAL A BOA?
Marighella, o filme, me fez sentir medo
Publicado em 17/08/2021 às 7:03 | Atualizado em 22/06/2023 às 12:50
Lembro bem da execução de Carlos Marighella, em São Paulo.
Foi em 1969, e eu já tinha 10 anos.
Lembro da revista - Manchete? - que trazia as fotos da execução do líder da guerrilha urbana e também as primeiras fotografias de Caetano Veloso e Gilberto Gil no exílio londrino.
Lembro do artigo que Caetano publicou no Pasquim sobre Marighella, e quase ninguém entendeu que era sobre ele.
Pode ser encontrado no livro O Mundo Não É Chato (Companhia Das Letras).
Lembro que os comunistas que eram contra a luta armada - meu pai, por exemplo - nutriam, mesmo assim, alguma admiração pelo guerrilheiro.
Marighella, o filme de Wagner Moura, vazou no mundo digital e me trouxe muitas lembranças da ditadura sob a qual os brasileiros viveram de 1964 até 1985.
Vejo gente dizer que, em 2021, com Jair Bolsonaro na presidência, o Brasil está sob uma ditadura. Não, não está, embora a gente saiba que o presidente faz a sua defesa.
A ditadura é sempre pior.
O momento atual é de ter essa consciência e de saber que, sob a vigência de uma Constituição, governos democráticos podem aperfeiçoar o Brasil e fazê-lo avançar em seu processo civilizatório.
É um longo caminho. Os da minha geração, mesmo que envelheçam, não vão ver. Ou verão muito pouco.
Marighella, o filme, cuja estreia nos cinemas brasileiros virou uma verdadeira novela, me fez sentir medo.
Sim. Medo de uma nova ditadura. Algo muito pior do que o que já temos com Bolsonaro no poder.
A meninada dos dias atuais - contra ou a favor da ditadura - não faz ideia do que estou falando. Não tem como fazer.
O filme, bem realizado, tem qualidades e defeitos.
A estrutura narrativa é sedutora, mas o tom apologético do personagem central é excessivo.
É um filme necessário, li em algum lugar.
Mas é também - não custa reconhecer - um filme provocativo para uns malucos que estão por aí loucos para cometer atos de violência.
A cena final do Hino Nacional é muito forte.
O hino é nosso. É o que ela diz.
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