COTIDIANO
Bons profissionais também são vítimas de bullying nas empresas
Publicado em 19/07/2014 às 8:02
Muitos acreditam que o assédio moral, ou bullying, tem uma só mão de direção, ou seja, vai do chefe para o subordinado. No entanto, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Bullying no Trabalho, dos Estados Unidos, e divulgada em 2014, mostra que o bullying no trabalho também é praticado entre colegas. De acordo com essa pesquisa, pelo menos 72% dos empregados norte-americanos foram vítimas, estão sendo alvo ou conhecem casos de bullying no trabalho. Do total de empregados pesquisados, ao menos 28% relataram que o bullying partiu de um colega ou de colegas de trabalho e não propriamente dos chefes:
“Esse é um fenômeno ainda invisível nas empresas, ou seja, quando as pessoas sofrem assédio por parte de colegas. E, por incrível que pareça, esse tipo de bullying tem a ver com o fato de, via de regra, a vítima ser um bom profissional, ter ótimo desempenho e começar a incomodar os colegas, que se sentem ameaçados”, explica Eduardo Carmello, Diretor da Entheusiasmos, empresa especializada em gestão de talentos.
Considerado um dos 5 mais importantes palestrantes de temas de gestão de pessoas do Brasil, Carmello assinala que, em pelo menos em 90% das empresas brasileiras, o empregado que faz mais, que é pró-ativo e que busca superar as expectativas, é mal visto pelos colegas, o que leva a uma situação que fatalmente termina no bullying:
“Frequentemente escuto queixas de bons talentos nas empresas que raramente são reconhecidos e, pior, costumam ser perseguidos por outros grupos de empregados que deixam claro que o bom desempenho deles evidencia claramente o mau desempenho de todos os demais, daí porque costumam intimar os bons profissionais a 'baixarem a bola'”, alerta Carmello.
Outra informação surpreendente da pesquisa do Instituto de Bullying no Trabalho diz respeito ao perfil da vítima. De acordo com os dados, 37% daqueles que mais sofrem esse tipo de perseguição são considerados gentis e dotados de compaixão; outros 22% costumam ter jogo de cintura, ou seja, atuam para alcançar um acordo e 19% são cooperativos. Ao contrário do que se imagina, os agressivos, com 15%, e os abusivos, com 6%, não são as principais vítimas.
“Esses dados são muito reveladores, pois evidenciam claramente as razões pelas quais muitos bons profissionais deixam as empresas, ou seja, falta de reconhecimento e perseguição por parte de colegas que buscam esconder sua incompetência perseguindo quem têm bom desempenho e uma visão mais humanitária da empresa”, alerta Carmello.
De acordo com o consultor, quando um clima como esse se instala na empresa, os grandes derrotados são a própria organização e o empregado com desempenho excepcional, que se torna vítima do bullying. Nesse sentido, a empresa que não agir para conter esse problema vai perder as pessoas que fazem a diferença junto ao cliente e manter justamente aqueles acomodados, que são incapazes de gerar bons resultados:
“Como evitar que isso aconteça? É fundamental que as empresas tenham sistemas de competência e de meritocracia que reconheçam os bons empregados, que ajudem a desenvolver as pessoas medianas e que gerem consequências para aqueles que têm baixo desempenho. Hoje, a maioria das empresas brasileiras faz exatamente o oposto, ou seja, trata da mesma forma bons e maus profissionais, com um agravante: aquele que trabalha muito e bem acaba conseguindo apenas mais trabalho, ou seja, acaba fazendo aquilo que os empregados de baixo desempenho deixam de fazer”, assinala Carmello.
Para o bom profissional, ganhar o mesmo que todos os demais e ainda ter que fazer mais do que os outros, explica Carmello, é um fator de desmotivação e a principal razão para que essa pessoa deixe a organização:
“Se não quiser ficar apenas com os medianos, as empresas precisam agir para eliminar o bullying. A pesquisa do Instituto de Bullying no Trabalho mostra que ele existe e que ele pode simplesmente dizimar os bons profissionais das organizações”, alerta Carmello.
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