SILVIO OSIAS
Tem muita gente mentindo para Solha nas redes sociais. Eliane Giardini, sobrinha do escritor, foi verdadeira. Ainda bem!
Publicado em 23/11/2021 às 5:59
W.J. Solha não vende os livros que publica. Faz uma lista de supostos leitores e manda para estes pelos Correios. Não deixa de ser interessante o método. Talvez alcance mais gente do que se o trabalho estivesse exposto na prateleira de uma livraria.
Não tenho papas na língua quando vou falar sobre Solha. Não tenho porque faz pelo menos 50 anos que o conheço. Ele, levado por Roberto Peixoto, um colega do Banco do Brasil, para conversar com meu pai sobre astronomia. Queria elementos para o livro que pretendia escrever - os mesmos que foi procurar com o professor Rubens de Azevedo, que, à época, dirigia o Observatório Astronômico da Paraíba.
Quando Solha fez 80 anos, em maio último, e a Paraíba ficou a lhe dever uma homenagem proporcional à contribuição que deu à produção cultural do estado, fui eu que "vendi" à TV Cabo Branco - e obtive êxito - a ideia de que a emissora de televisão mais importante da Paraíba não poderia deixar passar a data sem um registro decente. Solha sabe de tudo isso. Por isso, fico à vontade para dizer o que penso sobre o que esse grande artista produz.
Seu novo livro chegou a muitas mãos via Correios, e, aí, seguiram-se os comentários nas redes sociais. Muitos, absolutamente desonestos, mentirosos mesmo. De gente que não se deu ao trabalho de ler 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite. Ou que não está qualificada para o exercício da crítica.
É um tratado poético-filosófico. De leitura difícil e bastante hermética. Li e não gostei. Normal. Livros, a gente tanto pode gostar quanto não gostar. Não tem nada demais. Não nos desautoriza enquanto leitores, nem condena o autor para todo o sempre. Ulisses, de Joyce, nunca consegui ler. Conheço umas três ou quatro pessoas que conseguiram. Não mais do que isto. Solha talvez seja uma delas. E conheço gente que diz ter lido porque enriquece o currículo.
Essa minha conversa toda é para chegar em Eliane Giardini (Foto/Divulgação). Eliane é sobrinha de Solha. Filha de uma irmã de Solha. E quem a fez atriz foi o tio, em tempos muito remotos, numa aventura cinematográfica genuinamente paraibana chamada O Salário da Morte, que deixou Solha e Zé Bezerra falidos.
Eliane podia ser agradável com o tio. Podia muito bem ter botado o livro nas alturas, como tanta gente fez, lançando mão de indisfarçável desonestidade intelectual. Mas não. Ela disse o que pensa. Foi verdadeira e honesta. Tão verdadeira e tão honesta que o próprio Solha postou nas redes sociais.
Fecho com a fala de Eliane Giardini. Cresce minha admiração por ela. Por Solha, minha admiração sempre esteve muito além do alcance das minhas mãos.
Eliane a Solha:
"Fico tão desconfortável de não comentar teu livro. Fico mais ainda de não ter conseguido decifrá-lo. Achei-o o mais enigmático de todos. Hermético. Para poucos. E eu não estou nessa lista dos poucos. Não consegui acompanhar. Não alcanço. Imagino a grandeza contida ali dentro. Mas não penetro."
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