SILVIO OSIAS
Steven Spielberg acerta em cheio e faz belíssimo filme em remake de West Side Story
Publicado em 10/12/2021 às 6:10 | Atualizado em 10/12/2021 às 8:22
No Brasil, o filme se chama Amor, Sublime Amor. Neste texto, vou usar o título original, West Side Story.
Steven Spielberg tinha 10 anos quando ouviu as músicas de West Side Story. Ainda a versão com o elenco do espetáculo que começou a ser encenado em 1957. O filme veio um pouco depois, em 1961. Ele entrou logo cedo para o grupo de grandes admiradores dessa adaptação de Romeu e Julieta feita por um invejável time de craques: Leonard Bernstein, autor das melodias; Stephen Sondheim, das letras; Arthur Laurents, do libreto; Jerome Robbins, das coreografias. Grupo acrescido, no cinema, pelo diretor Robert Wise.
Em 1971, Spielberg iniciaria sua carreira de cineasta com a chegada, aos cinemas, do telecine Encurralado. Vinha para mudar o cinema. O diálogo entre méritos artísticos e êxito comercial era um antes dele, passou a ser outro depois. Àquela altura, 50 anos atrás, é provável que já pensasse em refilmar West Side Story, um jovem filme de 10 anos. Se pensava, certamente sabia que era coisa para o futuro.
Seis décadas separam o West Side Story de 1961 do West Side Story de 2021, que chegou aos cinemas nesta quinta-feira (09). Steven Spielberg é um homem velho, às vésperas de completar (no dia 18) 75 anos e um dos maiores cineastas do mundo - status que nem sempre lhe é conferido por causa da filmografia extensa e, necessariamente, irregular, e da opção pelos chamados filmes comerciais.
West Side Story é o primeiro musical de Spielberg. Carrega consigo o desafio sempre muito significativo da refilmagem. Sobretudo quando se trata da refilmagem de uma obra-prima. E traz uma outra questão desafiadora para seus realizadores: qual a medida exata do equilíbrio entre o que pode e o que não pode ser mexido? Em outras palavras: qual o tamanho da fidelidade que deve ser mantida?
O West Side Story de Steven Spielberg é um tributo ao West Side Story de Robert Wise e Jerome Robbins. É um filme de fã, li em algum lugar, e é verdade. O maior símbolo disso é a presença de Rita Moreno no elenco. Moreno, que faz 90 anos neste sábado (11), era uma Anita jovem e impetuosa na versão de 1961. Agora é Valentina, a viúva de Doc, personagem que não existe mais. É ela que canta Somewhere, uma das mudanças do remake.
Milhões de fãs que West Side Story tem espalhados pelo mundo esperaram ansiosamente pela versão de Spielberg. Sou um deles, vi na primeira sessão do dia da estreia e posso assegurar: não vão se decepcionar. É um belíssimo filme. Um tributo que só um grande admirador e também um grande cineasta realizaria.
O West Side Story de hoje consegue ser grandioso sem mexer na grandeza do West Side Story de ontem. É esquisito, mas é isso mesmo. É como se os dois filmes fossem iguais, sendo diferentes. O West Side Story de ontem trata de temas que não perderam a validade. No West Side Story de hoje, uma quantidade maior de diálogos falados trouxe esses temas para a realidade atual, tornando-os ainda mais fortes.
O filme de 1961 começa com planos aéreos de Nova York. O de 2021, com imagens de escombros. Lá estão os pobres que saíram de Porto Rico, mas também de regiões da Europa, em busca do sonho americano e não encontraram. São eles que se enfrentam nas ruas da cidade e é no meio deles que surge o amor de Tony e Maria. A menina que queria ser menino agora é um personagem trans. As mulheres estão mais empoderadas. O filme se passa na década de 1950, mas fala da América de hoje.
Gente jovem que canta, dança e atua. Trabalhando com um eficientíssimo elenco, Spielberg há de ter realizado seu desejo de refilmar West Side Story. Para cuidar da música, convocou o maestro Gustavo Dudamel. O venezuelano já atuou à frente de grandes orquestras sinfônicas. Maria, Tonight, America, Somewhere - as melodias de Bernstein são clássicos do século XX que permanecem íntegros no século XXI. Prefiro sempre A Boy Like That/I Have a Love, momento dramático protagonizado por Anita e Maria depois da tragédia que se abate sobre elas.
Ao refilmar West Side Story, Steven Spielberg confronta realidade e fantasia. A realidade diz que o mundo, tal como aquele lugar que o filme mostra, está doente. A fantasia diz o contrário: que, se agora estamos sob escombros, é preciso crer que amanhã estaremos sobre eles.
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