SILVIO OSIAS
Será que, na França, Macron vai sair, e Le Pen vai entrar? E nós, no Brasil, ficaremos com a democracia ou com a barbárie?
Publicado em 12/04/2022 às 10:49
Como em 2017, Macron e Le Pen voltam a disputar as eleições na França agora em 2022. Centro versus extrema direita. Acredito que, há cinco anos, ao eleger Macron, a França deu uma lição ao mundo. Naquela época, eu já temia que, no Brasil, Bolsonaro viesse a ser o próximo presidente, mas quase ninguém queria acreditar nessa possibilidade.
Quando Macron foi eleito, no Brasil estávamos a um ano e cinco meses das eleições de 2018. Agora, quando a França realizar seu segundo turno, estaremos a apenas pouco mais de cinco meses.
Em 2017, a propósito das eleições francesas e querendo tirar delas alguma lição para as eleições brasileiras no ano seguinte, escrevi dois textos que ainda guardam alguma atualidade neste 2022 em que vamos escolher entre a manutenção da barbárie ou a reconstrução do jogo democrático.
Gostaria que vocês lessem. Por isso, os trago de volta na coluna desta terça-feira (12).
Eis o primeiro texto:
Testemunhei recentemente uma conversa curiosa entre um petista e um não petista.
Falavam de cenários para 2018.
O petista perguntou ao não petista:
Se for Lula e Bolsonaro, você vota em quem?
E o não petista respondeu:
Em Lula, ora!
Aí foi a vez do não petista perguntar ao petista:
E se for um candidato de centro e Bolsonaro, você vota em quem?
E o petista respondeu:
Claro que voto nulo!
Neste domingo, enquanto acompanhava a eleição na França, lembrei da conversa.
A expressiva vitória de Emmanuel Macron sobre Marine Le Pen é um não categórico à direita mais atrasada que avança pelo mundo.
Seis meses atrás, os americanos, elegendo Donald Trump, não deram a resposta que os franceses deram neste domingo.
Ainda que Macron não seja o melhor, mas o menos ruim, venceu a França da República, da Democracia.
Em 2018, que lição o Brasil poderá tirar da derrota da direita na eleição da França?
A conversa que testemunhei entre um petista e um não petista aponta para a tremenda dificuldade que ainda temos de assimilar lições como a da França.
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Agora, o segundo texto:
Igualdade, fraternidade, liberdade!
Aprendi logo cedo como algo que remetia à França. Como contribuição da França ao mundo.
Em casa, acho que ouvi a Marselhesa antes de, na escola, saber da Revolução Francesa. Para mim, é o mais belo de todos os hinos nacionais.
Ainda hoje, encho os olhos de lágrimas na cena de Casablanca em que a Marselhesa se sobrepõe ao canto dos nazistas.
Com aquele "viva a França, viva a democracia!" do final da sequência.
Vamos ver?
A França e seus legados.
Balzac, Hugo, Sartre e Simone, Camus, Renoir, Godard, Truffaut, Debussy, Ravel, Bardot, Moreau, Delon, Piaf, Aznavour. A Resistência. A Nouvelle Vague. O maio de 68.
Neste domingo, os franceses estão indo às urnas.
Divididos entre o centro (Macron) e a extrema direita (Le Pen).
As eleições na França não têm a ver somente com o destino dos franceses. Nem da União Europeia.
As eleições na França falam alto ao mundo sobre o recrudescimento das forças de extrema direita.
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