COTIDIANO
Paciente transplantada comemora 1º Dia das Mães com a filha: 'uma vida totalmente diferente'
Segundo a Layane Ferreira, a bebê foi "praticamente gerada em cima do meu rim transplatado". Após o transplante, ela comemora seu primeiro dia das mães.
Publicado em 08/05/2022 às 12:38
Tudo começou em 2014, quando Layane Ferreira descobriu, aos 11 anos, que tem uma doença autoimune chamada lúpus. O Lúpus se trata de uma doença crônica inflamatória causada quando o sistema imunológico ataca seus próprios tecidos. Logo após o diagnóstico, Layane começou a realizar tratamentos com remédios contínuos, mas, em junho de 2015, descobriu um problema renal em estado avançado, decorrente do Lúpus.
Foi esse agravamento que a levou a estudante, aos 15 anos, ao tratamento de hemodiálise, que durou cerca de 10 meses. “Cada um reage de uma forma, para mim, a doença foi muito agressiva”, diz Layane Ferreira, que perdeu 90% das funções renais. Nesse período, ela chegou a ficar em coma por um mês. A mãe de Layane, Leidiane Ferreira, conta que, para os médicos, as chances de sua filha sobreviver eram quase zero.
Para os médicos seria o fim dela. Mas Deus sempre esteve ao nosso lado e ela saiu desse quadro. Foram 30 dias de luta na UTI. Ao sair de lá, ela não andava e mal falava, dependia de mim pra tudo. O médico falou pra mim que a chance que Layane tinha de sobreviver em um transplante era a mesma que tinha fazendo hemodiálise, no caso, quase zero. Eu, mesmo com tantos ‘nãos’ durante este tempo, nunca desisti e fui à luta porque eu acreditava que Deus era capaz de salvar a vida dela”, diz Leidiane Ferreira
Até que finalmente, em 2019, Layane viajou para São Paulo com sua família para se cadastrar na fila de espera do transplante renal. Seu cadastro foi aceito em um mês e, dada a gravidade do seu caso, ela conseguiu sair da fila após 20 dias. “Quando fui pra São Paulo, fiz o transplante e reagi muito bem, mas tive problema no pâncreas e fiquei mais 17 dias internadas sem conseguir comer e beber nada”, relembra Layane.
"Logo depois disso eu fui pra casa, mas infelizmente, um mês depois, eu descobri um problema que todo transplantado pode pegar, e que parece uma gripe. Aí fiquei novamente internada para tomar medicação. Fiz o tratamento todo certinho e no fim do ano consegui voltar para minha casa na Paraíba. Até então, eu sigo meu tratamento e tá tudo bem. Em junho já faz 3 anos do transplante”, diz Layane Ferreira.
Para quem está na fila de espera por transplante, ou em situação parecida com a sua, Layane aconselha às pessoas que não desistam. “Às vezes demora, mas é uma vida totalmente diferente, é como se você renascesse. Tem suas limitações, mas você sai daquele sofrimento”.
Maternidade
Após uma adolescência marcada por tratamentos e um transplante, no qual os médicos acreditavam que Layane não sobreviveria, ela descobriu aos 18 anos, em 2018, que estava grávida. “Quando eu descobri minha gravidez, eu fiquei impressionada. Muita gente chegou pra mim dizendo: tira, essa criança vai nascer deficiente, vai nascer com má formação por causa do lúpus e porque eu poderia perder meu rim. Diziam: você está colocando sua vida em risco, aborta!”.
Estar grávida foi um grande risco para o seu rim transplantado. Ela recebeu recomendação médica do seu reumatologista para abortar. "Ele ficou com medo, depois de tudo que eu passei devido ao meu transplante”, explica. Mas já o nefrologista, responsável por cuidar do seu transplante, ciente dos riscos, deixou a decisão a seu critério e por conta própria.
Ao consultar uma obstetra, Layane foi informada que para conseguir realizar um aborto, ela teria que entrar com uma ação judicial que não seria fácil, mesmo tendo o lúpus e com a dificuldade do transplante. Ela comenta que, diante desse cenário, chegou a considerar abortar. “Como eu não tive apoio de quase ninguém, além da minha mãe, foi bem difícil pra mim, mas com o passar do tempo eu fui ficando mais tranquila”.
Durante a gravidez, Layane também sofreu com o abandono paterno. “O pai dela nunca se importou com ela”, relata. Mesmo assim, sua opção foi manter a gestação. “Como mãe, como pessoa, eu decidi ter porque sabia que seria a melhor decisão da minha vida. Desde o primeiro momento eu pensei que Luna seria uma luz na minha vida, e realmente foi”.
A sua gravidez foi de risco, por isso durou apenas 7 meses. “Luna foi gerada praticamente em cima do meu rim transplantado, mas consegui levar a gravidez até 34 semanas”, relembra.
É uma sensação inexplicável passar o Dia das Mães com seu filho, é um amor enorme, imenso. Eu não tenho nem palavras para explicar o amor que eu tenho por ela. Ela mudou completamente minha vida. Hoje eu sou outra pessoa, até minha saúde melhorou, ela é uma benção na minha vida”, diz Layane.
Após enfrentarem tantas dificuldades juntas, a mãe de Layane se emociona ao passar o Dia das Mães ao lado da filha e da neta: “Ver ela hoje ser mãe, algo que seria impossível para medicina, mas hoje está com o seu milagre nos braços. É um prazer passar o primeiro dia das mães com sua filha, sabendo que será o primeiro de muitos. Hoje ver ela com a filha no colo, não sei dizer porque às vezes nem acredito ainda”, diz Leidiane Ferreira.
Luna Rebeca nasceu em 13 de outubro. Aos seus seis meses de vida, sua mãe comemora: “É inexplicável ver que eu consegui ter minha filha em meus braços, e também muito saudável e perfeita”.
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