CULTURA
Roda de conversa sobre o romance Anna Karênina reúne pesquisadores em João Pessoa
Luísa Gadelha pesquisa literatura contemporânea em Portugal e Astier Basílio pesquisa literatura russa em Moscou. Paraibanos discutem importância e profundidade da obra de Tolstoi.
Publicado em 18/06/2022 às 7:38 | Atualizado em 18/06/2022 às 8:20
Um livro publicado originalmente em 1877 por um dos principais escritores daqueles tempos. Que, mesmo tendo sido produzido por um homem, traz à tona questões importantes envolvendo as mulheres da época. E que, não tardou, foi logo alçado à condição de clássico da literatura mundial. É essa uma das descrições possíveis para Anna Karênina, escrito por Liev Tolstoi e que ainda hoje é tema de instigantes debates entre pesquisadores e estudiosos de todo o mundo. Pois é justo isso o que vai acontecer em João Pessoa neste sábado (18), a partir das 17h, na Casa Furtacor. Uma roda de conversas reunindo os pesquisadores Astier Basílio e Luísa Gadelha, dois estudiosos de literatura contemporânea e que recentemente releram a obra.
Astier está morando atualmente na Rússia, onde fez mestrado e agora cursa doutorado em Literatura Russa, em Moscou. Luíza Gadelha, por sua vez, realiza seu doutorado em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Calhou de ambos estarem na Paraíba ao mesmo tempo. E é sob aspectos bem diferentes, leituras e visões distintas, percepções individuais, que eles vão dialogar entre si e com os presentes no dia do evento.
Luísa Gadelha, por exemplo, comenta que leu Anna Karênina pela primeira vez quando tinha 15 anos. E que agora, passados tantos anos, resolveu reler.
“É um livro que me impactou muito por causa de sua intensidade”, explica Luísa.
Ela destaca que a ideia sobre o evento surgiu depois que Astier, da Rússia, resolveu fazer a releitura do mesmo livro de forma simultânea a ela. E que, à medida que ambos iam lendo, iam trocando ideias, informações, impressões. “O evento de sábado é uma extensão dessas nossas conversas”, comenta.
Pesquisadora sobre literatura e feminismo, Luísa destaca que o livro foi escrito numa época em que as mulheres ainda não tinham tanta voz e que eram retratadas majoritariamente por escritores homens. Mas que, ao menos do caso de Tolstoi, isso não desabona a obra.
Isso não tira os méritos do romance. Tolstoi faz uma boa análise da sociedade da época. E traz temas muito delicados para nós que pesquisamos feminismo, como casamento, adultério, maternidade, emancipação feminina, entre outros”, completa Luísa.
Astier Basílio, por sua vez, recém-chegado da Rússia, destaca que o encontro vai ser, antes de tudo, uma troca de ideias com diferentes pessoas sobre o romance. Ele comenta o respeito que tem a Luísa enquanto pesquisadora e a classifica como “grande interlocutora, com grande sensibilidade para a literatura”.
O pesquisador fez essa nova leitura no texto original, em russo, o que traz uma nova vivência com relação à obra. De toda forma, ele conta, a experiência mais forte foi justo o diálogo simultâneo com outra pessoa que também lia o livro. “Ter com quem conversar sobre uma obra, com alguém que também a leu. Isso é muito importante para quem gosta da literatura”, confidencia.
Sobre o livro em si, ele o classifica como uma obra importante da literatura mundial. “Essa importância pode ser aferida pela quantidade de adaptações para o cinema ao longo do tempo. A quantidade de países e de cultura que se lançaram nessa aventura de adaptar o clássico russo para a sétima arte”, comenta.
No mais, o pesquisador se enche de elogios ao escritor russo:
Tolstoi, pela sua grande dimensão como escritor, é considerado um filósofo. Alguém capaz de levantar questionamentos, de investigar a condição humana como ninguém. Essas especulações, essas investigações que ele faz, estão muito presentes no romance”, declara Astier.
Ele comenta ainda sobre os dualismos presentes da obra de Tolstoi, como o contraponto entre Moscou e São Petersburgo, o moderno e o antigo, a Rússia e o exterior. E tudo isso dentro da escrita narrativa.
“Tolstoi se utiliza do andamento da trama para expor as suas preocupações, os seus pensamentos, tudo de forma muito harmonioso. A trama tem uma agilidade de folhetim, e ao mesmo tempo uma grande profundidade, uma grande reflexão sobre a alma humana e sobre a hipocrisia da sociedade da época”, resume.
Apesar de toda a profundidade que cerca a obra, Astier segue a linha de Luísa e tranquila os interessados no evento. “Vai ser um bate-papo. Uma conversa sobre o romance. Depois, vamos escutar os apontamentos dos presentes”.
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