SILVIO OSIAS
Apoio de Anitta a Lula incomoda muita gente na esquerda, mas o candidato sabe quanto isso vale
Publicado em 14/07/2022 às 10:33
Faz alguns meses, conversei com uma amiga que é feminista e de esquerda, e ela, depois de assistir ao vídeo de Envolver, estava incomodada com a bunda de Anitta. Bunda, bunda, por que tanta bunda? - perguntava. Fiquei surpreso. Pensei que, nesse quesito, Elvis tinha resolvido o problema na década de 1950. Ou, um pouco mais tarde, Mick Jagger, que continua rebolando, agora que se aproxima dos 80 anos.
Não importa se o artista é hétero, é homo, é bi, é trans. Não importa a música que ele faz, nem a suposta qualidade que esta tem. Gente que mostra a bunda, que rebola no palco - vamos encontrar aos montes no mundo da música popular. Certa vez, vi de perto, abrindo para os Rolling Stones no Maracanã, Rita Lee virou as costas para a plateia, desceu a calça e exibiu a sua bunda branca e magrinha.
Mas a bunda de Anitta incomoda muito mais do que outras bundas do universo pop. Gente de gosto musical dito refinado, gente com nível intelectual acima da média, gente de esquerda - para essas pessoas, não é nada fácil assimilar o sucesso de Anitta, que foi pobre, que é preta, que se projetou no funk, e que está aí, estrela internacional, "sambando na cara da sociedade". Há muito preconceito envolvido.
Faz anos, Andre Midani, um dos maiores executivos da indústria do disco no mundo, levou Anitta para a série de shows inusitados que produzia. Botou, no mesmo palco, Anitta, Arlindo Cruz e Arnaldo Antunes. De João Gilberto aos Titãs, Midani sabia das coisas e enxergava longe. Muita gente não sabia ainda, ou não queria saber o que, àquela altura, Midani já vislumbrava: o imenso potencial da moça que vinha de Honório Gurgel.
Dias atrás, Anitta anunciou seu apoio à candidatura de Lula. Foi um pipoco nas redes sociais. E uma surpresa para quem achava que ela era "isentona". Que Nada! Anitta é Lula, e Lula sabe o valor que tem essa adesão. Para quem a admira, feito eu, é bom saber que ela está do lado do jogo democrático e não do golpismo. É, mas no campo progressista, muita gente vai ter que se reciclar e aplaudir Anitta e tudo o que ela representa.
Comentários