SILVIO OSIAS
No Jornal Nacional, Lula cita Paulo Freire e, em tom conciliador, acerta com discurso de quem quer unir
Publicado em 26/08/2022 às 7:57 | Atualizado em 26/08/2022 às 10:39
Nesta quinta-feira (25), depois da entrevista de Lula na bancada do Jornal Nacional (Foto/Reprodução), o jornalista Reinaldo Azevedo, criador do termo petralha, disse nas redes sociais que o ex-presidente "não concedeu uma entrevista, mas fez uma exibição de gala". E acrescentou: "Sem erros".
A jornalista Miriam Leitão, que, a despeito de ter sido presa e torturada pela ditadura, é frequentemente chamada de golpista, disse que "o ex-presidente Lula se saiu muito bem na entrevista do JN". Ainda Miriam: "Ele não se intimidou nas perguntas delicadas da corrupção, até agradeceu. Fez frases de fácil comunicação. Acertou o tom, não se irritou. Conseguiu contornar a dificuldade de explicar o governo Dilma".
Outra jornalista da Globo, Leilane Neubarth, também foi às redes sociais comentar a entrevista: "Poderia citar muitas diferenças, mas me chama atenção o respeito de Lula pela Renata. Ele o tempo todo coloca ela presente e participando da entrevista. Homem que respeita mulher é outra coisa". As opiniões de Miriam Leitão e Leilane Neubarth foram compartilhadas pela advogada Carol Proner, que é casada com Chico Buarque.
Já Caetano Veloso, também compartilhado por Carol Proner, chorou vendo Lula no Jornal Nacional, "mais do que quando votei nele em 2002". Mais Caetano: "Tanto de nossa história! Racionalmente falando, meu candidato é Ciro. Mas Lula arrebata. Sou um brasileiro típico. Voto em Lula".
Diante de William Bonner e Renata Vasconcellos, o ex-presidente Lula citou Paulo Freire, o grande educador que a ditadura militar prendeu e depois mandou para o exílio. Disse Lula: "Eu li em um livro do Paulo Freire que a gente tem que juntar os divergentes para derrotar os antagônicos". Justificava Geraldo Alckmin para quem ainda não assimilou a presença do antigo adversário na sua chapa.
Na bancada do JN, Lula fez, em tom conciliador, um discurso de quem quer agregar. Confessou que tem saudade do tempo em que as disputas eram entre PT e PSDB (adversários, não inimigos), fez muitos elogios ao ex-governador Alckmin, acenou para o centro, para quem está fora da sua bolha. Ao seu modo, fez até a autocrítica que tanto se cobra do PT ao admitir que houve, sim, corrupção na Petrobrás e ao reconhecer os problemas do governo Dilma.
William Bonner e Renata Vasconcellos fizeram perguntas duras a Lula, mas num tom muito mais cordial do que aquele adotado na segunda-feira (22) durante a entrevista com o presidente Jair Bolsonaro. É importante que tenha sido assim. Lula - como Ciro Gomes e Simone Tebet - merece que seja assim porque joga o jogo democrático. Bolsonaro está fora desse grupo. Não é aliado da democracia, faz discurso golpista.
Os militantes que ontem à noite foram para as redes sociais esculhambar a Globo continuam errando. Parece que não entenderam os recados que uma entrevista como esta nos manda. Parece que não entenderam a frase de Paulo Freire. Nem mesmo o discurso agregador do ex-presidente. Na bancada do Jornal Nacional, de frente para William Bonner e Renata Vasconcellos, a estrela de Lula brilhou.
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