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SILVIO OSIAS

Bater nos nordestinos e tirar o dinheiro das universidades não é certo, mas o bolsonarista gosta

Publicado em 07/10/2022 às 10:18


                                        
                                            Bater nos nordestinos e tirar o dinheiro das universidades não é certo, mas o bolsonarista gosta

Certa vez, trabalhei com um cara da Record - nascido no Rio Grande do Sul, mas morador de São Paulo há muitos anos - que passou uma temporada em João Pessoa. Um dia, ele me procurou preocupado: "Temos que submeter o chef a um fonoaudiólogo". Perguntei o motivo, e ele respondeu: "O chef bota um i onde não existe, pronuncia arroiz". Puxei uma conversa sobre comunidade linguística, mas o cara não sabia que isso existia. Aí fui curto e grosso: "Ele diz arroiz do mesmo modo que você não diz senta, mas seinta".

Trabalhei com uma jornalista do Rio de Janeiro que me perguntou se Fagner era paraibano. Admitamos, com alguma dificuldade, que ela não sabia que Fagner é cearense. Mas, até aí, fui tolerante com sua ignorância, embora, daqui, eu saiba que Roberto Carlos não é do Rio de Janeiro e que Chico Buarque não é de São Paulo. Respondi que não, que Fagner não é da Paraíba, mas do Ceará. Algo, no entanto, me chocou mais do que a ignorância da jornalista. Foi a sua resposta: "Paraíba? Ceará? É tudo a mesma coisa".

Nesta quinta-feira, lembrei do cara da Record e da jornalista do Rio de Janeiro. Lembrei por causa do que o presidente Jair Bolsonaro disse sobre o nosso analfabetismo, o analfabetismo da gente do nordeste que deu vitória ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno da eleição presidencial. A ignorância e a arrogância de Bolsonaro não diferem muito da preocupação do cara da Record com o arroiz do chef e da confusão que a jornalista do Rio de Janeiro fazia entre a Paraíba e o Ceará.

Ele e ela representam o micro nessa minha conversa. O presidente é o macro. O curioso é que Bolsonaro foi mal votado no Nordeste, precisa dos votos dos nordestinos e, sem qualquer constrangimento, bate nos que aqui nasceram. À luz da razão, ou de relações politicamente normais, seria suicida a atitude do presidente. Ora, não faz o menor sentido bater naqueles de cujos votos você necessita. O que me assusta, no entanto, é que, no Brasil insano do bolsonarismo, até aqui tem dado certo o que é completamente errado.

A lógica da democracia é uma, mesmo que ela seja cheia de defeitos. A lógica do bolsonarismo é outra. Com ela, Bolsonaro saiu do baixo clero, em quase 30 anos na Câmara Federal, e se elegeu presidente em 2018. Com ela, Bolsonaro cometeu um monte de crimes de responsabilidade, mas escapou de um impeachment. Com ela, Bolsonaro chegou ao segundo turno e, apesar do favoritismo de Lula, pode muito bem ser reeleito em 30 de outubro. Com ela, Bolsonaro, em plena campanha, deixou as universidades com o pires nas mãos, e ainda tem quem bata palmas.

Imagem ilustrativa da imagem Bater nos nordestinos e tirar o dinheiro das universidades não é certo, mas o bolsonarista gosta

Silvio Osias

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