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SILVIO OSIAS

Deixem Bolsonaro estrebuchar à vontade. Quem defende a democracia está rindo dele

Publicado em 01/11/2022 às 11:17


                                        
                                            Deixem Bolsonaro estrebuchar à vontade. Quem defende a democracia está rindo dele
Montagem: Poder360

Domingo (30) à noite, divulgados os números da eleição presidencial e anunciada oficialmente a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vimos manifestações importantíssimas. Da ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal, do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, do senador Rodrigo Pacheco, presidente do Senado e do Congresso Nacional, do deputado Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, de vários líderes do mundo, incluindo o presidente americano Joe Biden. O reconhecimento imediato da vitória de Lula esperamos que tenha contido os impulsos golpistas do presidente Jair Bolsonaro.

Café frio, água quente. Já vimos isso de perto em governos municipais e estaduais na Paraíba. O ambiente de abandono e solidão é de uma tristeza profunda para o lado que foi derrotado. Se o lado vencido tiver, no comando, um homem da estatura de um Fernando Henrique Cardoso, tudo bem. Duas décadas depois, os analistas políticos ainda lembram que o presidente FHC promoveu a melhor transição de governo quando Lula, enfrentando o tucano José Serra, venceu sua primeira eleição para presidente, em 2002. No caso de Bolsonaro, a transição se dará à revelia dele, apesar dele, até porque a lei manda que esta ocorra.

Não creio em golpe. Não há ambiente para isso. O contexto histórico não favorece, nem dentro nem fora do país. Mas é preciso considerar que pode haver tumulto. O bloqueio das rodovias foi o primeiro sinal. O silêncio de Bolsonaro é outro sinal. Um silêncio, aliás, muito eloquente. Um áudio que ouço agora, atribuído ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho zero três do presidente, é preocupante. Ele convoca milhões para manifestações de rua nesta quarta-feira, feriado de finados. Haverá grandes manifestações de rua? Serão pacíficas? Serão tumultuadas? Não se brinca com golpe, e os incentivadores podem acabar na cadeia.

Em quase quatro anos de governo, Jair Bolsonaro tripudiou com a democracia. Defendeu o fechamento do Supremo, defendeu o fechamento do Congresso, defendeu um golpe como caminho para se perpetuar no poder. Sem dó nem piedade, tripudiou com brasileiras e brasileiros que perdiam parentes e amigos para a Covid. O presidente se comportou como um homem perverso. Agora, derrotado e às vésperas de ser apeado do poder, saindo talvez pela porta dos fundos do Palácio do Planalto, Bolsonaro merece ser tripudiado. Que sentimento mau! - dirão alguns. Que nada, é somente o desabafo legítimo dos que sofreram - e até adoeceram emocionalmente - em suas mãos.

O momento é de união nacional, diz, coberto de razão, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. É o que ele tentará fazer daqui a dois meses, sobretudo na relação com os políticos. Se não for assim, não terá paz para governar. Mas, entre as pessoas comuns, as que estão fora e longe do mundo da política, essa união, infelizmente, ainda é mera teoria. As fraturas foram grandes demais, profundas demais. Em muitos casos, ouso dizer que parentes e amigos foram separados para sempre. O discurso de ódio que as pessoas assumiram em nome do bolsonarismo foi agressivo demais. Penso, muito sinceramente, que não deixou espaço para recuos nem para reconciliações.

Lula venceu a eleição. A democracia foi a grande vitoriosa. Precisamos acreditar em dias melhores, mas eles não virão como que por milagre. Passarão por uma construção de cidadania que é nossa, que vai além da relação entre os políticos. Isso ainda é muito difícil no Brasil. É difícil para mim, é difícil para você, que falamos muito mais do que fazemos, que atribuímos a nós mesmos uma ação e uma luta que, verdadeiramente, nunca praticamos. Bolsonaro disse que só Deus o tiraria da cadeira de presidente. Se você acredita, isso Deus já fez por nós. Façamos a nossa parte. E deixemos Bolsonaro estrebuchar. É muito bem feito que assim seja.

Imagem ilustrativa da imagem Deixem Bolsonaro estrebuchar à vontade. Quem defende a democracia está rindo dele

Silvio Osias

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