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SILVIO OSIAS

Paulo Jobim deixou trabalho autoral e preservou obra do pai

Publicado em 08/11/2022 às 8:21


                                        
                                            Paulo Jobim deixou trabalho autoral e preservou obra do pai

O corpo de Paulo Jobim será velado nesta terça-feira (08) no Rio de Janeiro. Filho mais velho de Antônio Carlos Jobim, o músico e arquiteto morreu na sexta-feira (04). Estava com 72 anos e, há uma década, combatia um câncer na bexiga.

A música de Paulo Jobim entrou no meu radar em 1973, quando, aos 14 anos, me apaixonei por Matita Perê, o álbum que Tom Jobim acabara de lançar. Até hoje, é meu disco preferido de Tom. Por Águas de Março, Ana Luíza e Matita Perê. E, sobretudo, pela suíte Crônica da Casa Assassinada, com variações sobre o tema ChoraCoração, de Tom e Vinícius de Moraes.

Um dos temas instrumentais do álbum é de autoria de Paulo Jobim, que tinha somente 23 anos na época em que o disco foi lançado. A música se chama Mantiqueira Range. Parece muito com outras pequenas peças instrumentais que o pai vinha registrando em discos como Wave, Tide e Stone Flower. Anos mais tarde, foi que percebi o Villa-Lobos e o Moacir Santos que há em Mantiqueira Range, arranjada por Claus Ogerman.

Reencontrei a música autoral de Paulo Jobim em Urubu, o disco que seu pai lançou depois de Matita Perê. O trabalho é de 1976. Junta o Tom das canções (no lado A) com o Tom de pretensões eruditas (no lado B), novamente arranjado pelo maestro Claus Ogerman, com quem fez vários álbuns.

É no lado das músicas instrumentais que aparece Valse, de Paulo Jobim. Diria que é uma pequena (porque curta) obra-prima essa valsa minimalista escrita pelo primogênito do Maestro Soberano. Em 1978, ela ganhou letra de Ronaldo Bastos e fechou um dos lados do Clube da Esquina 2, de Milton Nascimento. A Valse se transformou em Olho D'Água, com cordas exuberantes arranjadas pelo autor e a voz sempre singularíssima de Bituca.

Samba do Soho é de 1978. Está em Passarim, penúltimo álbum de estúdio de Tom Jobim. Foi gravada em português e em inglês (na versão americana do disco) e era número obrigatório nos shows de Tom com a Banda Nova, grupo no qual Paulo fazia o violão e cantava.

Forever Green é uma das faixas de Antônio Brasileiro, último disco de Tom Jobim, lançado em 1994, o ano em que ele morreu. Forever Green é parceria do pai com o filho. Tom quis ser arquiteto, foi músico. Paulo, foi músico e arquiteto. A questão ambiental, preocupação de ambos, é tema da canção. Sting foi chamado para participar do álbum. Tom queria que ele cantasse Forever Green. Ele preferiu Insensatez, um clássico da Bossa Nova.

Depois da morte de Antônio Carlos Jobim, Paulo foi figura central na fundação do instituto que leva o nome do seu pai. Como músico, ao lado do pianista Daniel Jobim (seu filho), do baterista Paulo Braga e do violoncelista Jaques Morelenbaum, formou um quarteto que, em estúdios e palcos, fez sólido trabalho de preservação do extraordinário  legado musical de Tom.

Tom Jobim tinha 67 anos quando morreu. Paulo Jobim tinha 72. Tom viveu pouco após o diagnóstico. Paulo, uma década. Os dois morreram de câncer na bexiga.

MANTIQUEIRA RANGE, 1973

VALSE, 1976

OLHO D'ÁGUA, 1978

SAMBA DO SOHO, 1987

FOREVER GREEN, 1994

Imagem ilustrativa da imagem Paulo Jobim deixou trabalho autoral e preservou obra do pai

Silvio Osias

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