SILVIO OSIAS
O grande Martin Scorsese, diretor e pensador do cinema, faz 80 anos
Publicado em 17/11/2022 às 20:56
Martin Scorsese faz 80 anos nesta quinta-feira (17). Ele não é somente um grande diretor de filmes. É um homem que pensa o cinema. Também não está circunscrito à produção dos Estados Unidos. Americano de origem italiana e formação católica, Scorsese nasceu e cresceu em Nova York. Sua origem o levou a ver e amar a cinematografia de outros povos. A arte o salvou de uma vida marginal semelhante à de alguns personagens dos seus filmes.
Além de realizador, é um cinéfilo dividido entre os grandes filmes americanos e os não americanos. Uma paixão não exclui a outra. Seu coração e sua mente têm lugar para os dois amores. Eles enriquecem o seu trabalho, o influenciam, fornecem elementos que vamos identificar nos filmes que realizou. Características que fazem de Scorsese um diretor de cinema diferente dos outros. Talvez o único assim entre os seus contemporâneos.
Um pé na América, outro fora dela. Duas viagens transformadas em documentários traduzem o que estou dizendo. Um, sobre o cinema americano. O outro, sobre o italiano. O mesmo artista a contemplar dois países e dois modos distintos de realizar filmes. As diferenças o interessam, vão acabar direcionadas ao que ele faz.
Scorsese é um diretor dividido entre a ficção e o documentário – mais uma das suas marcas de originalidade. O melhor é que domina muito bem as duas formas de expressão cinematográfica. Embora famoso pelos filmes de ficção, nos documentários está livre da pressão dos estúdios, liberdade que conduz a resultados excepcionais.
O amor de Scorsese pela música está presente em seu cinema. Não apenas em documentários como O Último Concerto de Rock ou Shine a Light, No Direction Home ou Living in the Material World. Seus filmes de ficção têm sequências concebidas a partir da música. O compasso define o ritmo da montagem.
As cenas de luta de Touro Indomável tomam como parâmetro os critérios de edição que adotou em O Último Concerto de Rock. O uso de trilhas preexistentes serve como comentários sobre uma determinada cena ou complementa a fala de um personagem. Scorsese cresceu entre o cinema e a música. Aprendeu a amar os dois. E escolheu um para que fosse seu ofício.
Alice, de Alice Não Mora Mais Aqui, é o que as feministas chamariam de mulher empoderada. Execrado pelos católicos, A Última Tentação de Cristo é uma profunda reflexão sobre os dilemas da fé. No Direction Home, sobre Bob Dylan, é denso retrato do artista e seu tempo. O Rei da Comédia tirou Jerry Lewis do ostracismo e deu a ele um papel sério. Vivendo no Limite, de modo perturbador, fala da convivência com a morte.
Se você quer conhecer mais o cineasta, leia Conversas com Scorsese, de Richard Schickel. Schickel e Scorsese conversam sobre a infância pobre em Nova York e a formação do cineasta, cada um dos seus filmes e temas ligados à sua produção. Falam da família, das obsessões, da fé, da passagem do tempo, da morte. Vida e arte se confundem, se misturam numa leitura para cinéfilos.
Posso dizer que o livro de Richard Schickel confirmou muito do que eu já sabia de Marty, além de ter robustecido as razões da minha admiração por ele. E me surpreendeu: o tornou mais homem, menos mito. Como se ele não fosse Martin Scorsese, mas um cara com quem a gente senta para conversar sobre cinema. E acompanha sua luta às vezes insana para fazer o próximo filme.
Segue, em ordem cronológica, meu top 5 de Martin Scorsese. No final, acrescento um sexto título para lembrar da sua atuação como documentarista.
CAMINHOS PERIGOSOS
TAXI DRIVER
TOURO INDOMÁVEL
OS BONS COMPANHEIROS
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
O ÚLTIMO CONCERTO DE ROCK
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