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SILVIO OSIAS

A estrada é longa e sinuosa, mas foi bonita a festa da posse de Lula

Publicado em 02/01/2023 às 10:42


                                        
                                            A estrada é longa e sinuosa, mas foi bonita a festa da posse de Lula

"Não se incomode/O que a gente pode, pode/O que a gente não pode explodirá/A força é bruta/E a fonte da força é neutra/E de repente a gente poderá" (Gilberto Gil/Realce, 1979). Ou ainda Gilberto Gil: "A seta do tempo é sempre pra frente".

Em 2004, aos 45 anos, eu estava numa ilha de edição vendo uma das reportagens especiais dos 35 anos do Jornal Nacional. A matéria dava conta da política brasileira entre 1969 e o início do primeiro mandato do presidente Lula. Com 60 anos, um amigo ao meu lado acompanhou atentamente a reportagem e, ao final, em tom melancólico, disse algo mais ou menos assim: "Pois é, e assim a nossa vida passou". Lembrei disso e de muitas outras coisas nesse primeiro dia de 2023, enquanto vi pela televisão a posse do presidente Lula para seu terceiro mandato.

Agora em 2023, estou a caminho dos 64 anos, e muitos filmes passam na minha cabeça. Essas trocas na política são verdadeiros marcadores de tempo. Quatro anos. Mais quatro anos. Outros quatro. E, assim, a nossa vida vai passando. Esses filmes às vezes são tristes. Como naquela tarde de 1985 em que Ulysses Guimarães discursava no sepultamento de Tancredo Neves, em São João del-Rey. Lá íamos esperar até 1988 para que, afinal, o povo pudesse votar para presidente. Quatro anos que viraram cinco por causa dos "cinco anos para Sarney".

Outro filme triste: a eleição de 1989. Depois de 21 anos de governos militares, depois da transição feita por José Sarney, depois de promulgada a Constituição da 1988, o brasileiro recuperou o direito de escolher o presidente da República e elegeu, recorrendo à expressão cunhada por Leonel Brizola, um autêntico "filhote da ditadura". Fernando Collor tomou posse no dia 15 de março de 1990, confiscou a poupança do povo, peitou a classe política e, antes que o ano de 1992 terminasse, foi defenestrado do poder por um processo de impeachment.

Mais triste do que ver Tancredo morrer antes de tomar posse, mais triste do que ver Collor eleito na volta das diretas para presidente, mais triste do que tudo foi o filme que começou em outubro de 2018 com a eleição de Jair Messias Bolsonaro. Mau brasileiro, mau militar, defensor da ditadura e dos torturadores, golpista, homofóbico, racista, misógino, mau, perverso, moleque, mentiroso, incapaz - Bolsonaro era tudo isso, e nós já sabíamos quando ele foi eleito para um mandato que não poderia dar certo. Tal como vimos acontecer.

A democracia brasileira foi empurrada para um abismo. Os brasileiros que acreditam na democracia também foram. Muitos milhares morreram na pandemia, tratada com desprezo e cinismo pelo governo do agora ex-presidente Bolsonaro. Muitos ficaram emocionalmente doentes porque não suportaram a prevalência da barbárie sobre os ideais civilizatórios. Depois da noite de 21 anos da ditadura militar, o Brasil foi empurrado para uma nova noite, quatro anos que deixaram sequelas que não serão facilmente superadas.

A imensa tristeza desse filme dos últimos quatro anos certamente amplificou a alegria da fotografia (como filme, ainda está em construção) do primeiro dia de 2023. Por mais que a gente saiba que a reedificação da democracia brasileira será sinuosa, a posse de Lula foi uma explosão de júbilo, uma verdadeira ode à alegria. O Brasil volta a ser governado por um homem que sabe dos avanços do mundo civilizado e também dos problemas cruciais que esse mundo enfrenta. Avanços e desafios sintetizados nas simbologias do ritual de posse.

Na infância, minha mãe me ensinou que símbolos podem ser coisas pequenas que falam sobre coisas grandes. Algumas vezes, é um símbolo que faz disparar a nossa emoção. Na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nada foi mais forte do que a subida da rampa. Lula e o povo brasileiro. E, no meio do povo, nada me comoveu tanto quanto a presença de Raoni, símbolo dos povos indígenas em escala planetária. No fundo, a música de Villa-Lobos. O Trenzinho do Caipira é síntese do Brasil profundo.

Imagem ilustrativa da imagem A estrada é longa e sinuosa, mas foi bonita a festa da posse de Lula

Silvio Osias

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