icon search
icon search
home icon Home > cultura > silvio osias
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

SILVIO OSIAS

Cinema Por Escrito é belo inventário da obra de Antônio Barreto Neto

Publicado em 06/01/2023 às 9:00


                                        
                                            Cinema Por Escrito é belo inventário da obra de Antônio Barreto Neto

Nesta sexta-feira (06), a coluna é de Antônio Barreto. Ele aponta a atualidade de filmes de décadas atrás que estão na coletânea de crítica Cinema Por Escrito, atualidade que, com muita pertinência, enxerga também nos textos de autoria de Antônio Barreto Neto, seu pai.

ATEMPORAL

Antônio Barreto

No dia 13 de agosto de 2022, foi relançado o livro Cinema Por Escrito, uma coleção de críticas de Antônio Barreto Neto publicadas em A União nas décadas de 1960, 1970 e 1980, organizado pelo meu amigo Silvio Osias, ocupante deste necessário espaço de resistência do pensamento paraibano e, generosamente, apoiado pela Editora A União.

Na ocasião, como representante da família, tive a oportunidade de, com muita honra, dividir a mesa com o próprio Silvio e outras pessoas que admiro, nomeadamente, Fernando Moura, Zezita Matos e Naná Garcez. Instado a falar um pouco entre os pronunciamentos de nomes tão grandes e mais qualificados que o meu, tratei da impressão que tinha, a de que o livro é um belo inventário da obra de Antônio Barreto Neto, mas também, um chamado a todas as gerações (sobretudo as mais jovens) para conhecer seus escritos e, sobretudo, os filmes ali analisados.

Após minha fala, com a condescendência que marca o seu caráter, Silvio me fez assumir o compromisso de passar para a palavra escrita o que eu havia dito no evento. Por vários motivos (que vão de um ano agitado no meu escritório de advocacia até o fato de não querer contaminar este espaço com um texto pobre) nunca consegui transcrever as minhas impressões como queria e como acho que o livro merece.

Agora, já no início de 2023, creio que cheguei a uma versão aproximada (embora pálida diante daquilo que é escrito habitualmente aqui) do que pronunciei naquele dia.  Assim, passo a listar alguns exemplos de como os filmes analisados em Cinema Por Escrito, bem como a sensibilidade tanto do crítico quanto do organizador da obra, dizem muito sobre o Brasil e o mundo atuais.

Podemos começar com a pressão social para que as mulheres sejam mães perfeitas, quando não, a coação para que sejam simplesmente mães (e biológicas). Para Barreto Neto, talvez seja esse o comentário mais ferino de Polanski em O Bebê de Rosemary (1968 - Foto/Reprodução). Mais do que a intenção de causar medo, o crítico via uma fina ironia quanto à sacralidade da maternidade.

O capitalismo é o alvo de Francis Ford Coppola em O Poderoso Chefão (1972). Não é à toa que, em uma cena crucial para o entendimento do filme, Don Vito Corleone (Marlon Brando) não hesita em apertar a mão daquele que mandou matar seu primogênito, em um gesto que tem como único intuito manter a solidez dos negócios. É de Coppola ainda A Conversação (1974), em que o personagem de Gene Hackman enlouquece com o uso abusivo da tecnologia que aperfeiçoou. E eu duvido que a leitura desse texto seja sua última interação com o celular e a internet no dia de hoje.

Em tempos de pessoas absolutamente orgulhosas de pedirem para viver sob uma tirania, sob o risível argumento de serem “conservadoras”, é sempre bom revisitar Milos Forman e o seu espetacular Um Estranho no Ninho (1975), no qual a frustração, inclusive da libido, leva uma enfermeira a transformar o hospital psiquiátrico que chefia em um ambiente de repressão. Sim, há muita sexualidade reprimida e muita hipocrisia moralista (embora não apenas isso) acumulada nas portas dos quartéis brasileiros nos últimos meses.

Ainda sobre os que esperam que o Messias, pilotando um tanque de guerra e acompanhado de um cabo e um soldado, seja a salvação para qualquer problema, é impossível não lembrar de Taxi Driver (1976), em que um bronco armado se transforma em herói de grande parte da população ao realizar um massacre de indesejados sociais. Sim, o Travis Bickle de Robert De Niro, é nada mais que um miliciano. Também, a forma como uma minoria silenciosa pode manipular uma maioria pronta para consumir seu produto político/cultural de pretensões duvidosas, está presente em Nashville (1975), de Robert Altman. O domínio do sertanejo universitário na vida cultural brasileira tem as digitais do agronegócio (inclusive daquele que se diz pop e cujo presidente eleito chamou na campanha, acertadamente, de fascista).

Também a temática LGBTQIA+ estava presente lá em 1975, com Um Dia de Cão, de Sidney Lumet: o personagem de Al Pacino é baseado em um indivíduo que assaltou, de fato, um banco para que seu companheiro tivesse condições de realizar uma cirurgia de troca de sexo.  Cultura do cancelamento? Há textos sobre filmes de Elia Kazan, o “primeiro cancelado” da história das artes contemporâneas. Acusado de colaborar com o Macartismo, nos anos 50, delatando seus ex-amigos do Partido Comunista à Comissão de Atividades Anti-Americanas do Senado estadunidense, Kazan recebeu, em 1999, um Oscar pelo conjunto da obra, mas em uma cerimônia constrangedora em que foi aplaudido timidamente por alguns e totalmente ignorado por outros. Poucos o perdoaram ou souberam separar o artista da obra.

Enfim, há muito ainda no livro e é pouco o talento deste escriba para indicar tudo. Portanto, para finalizar, desejo um excelente 2023 e faço um pedido: se você chegou até aqui, que tal ver ou rever (além de ler a crítica de Barreto a) Ladrões de Bicicleta (1948), e se inspirar a ter um olhar mais atento para os desvalidos, como fez o mestre italiano Vittorio De Sica?

Antônio Barreto é advogado

Imagem ilustrativa da imagem Cinema Por Escrito é belo inventário da obra de Antônio Barreto Neto

Silvio Osias

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp